Ex-baterista do Angra comenta "Whiplash": 'Também já sangrei tocando'
Estava com grande expectativa para ver esse filme, pois além de ser um assunto que faz parte de minha vida, o trailer vende com eficiência a produção.
A película relata a história do jovem baterista Andrew Neiman (Miles Teller), de 19 anos, que quer entrar para história como um dos melhores da sua geração, tendo como maior ídolo Buddy Rich, que foi eleito em 2014 (pela revista americana "Modern Drummer"), o maior, o melhor e mais completo baterista de todos os tempos. Seus solos são considerados incríveis até hoje e ele foi o primeiro baterista a realmente aparecer em destaque num palco.
É impossível não lembrar da época que eu estava começando minha carreira musical e tenho certeza de que mesmo a bateria sendo o foco principal, todos os músicos conseguem se inserir no contexto.
Assim como na história de todos os grande músicos, sempre existe um grande mestre para estimular o desenvolvimento e crescimento musical do seu pupilo. Às vezes pode parecer meio exagerado, mas conheço histórias de grandes mestres que usavam de todos os artifícios para extrair o melhor do seu aluno.
No caso de "Whiplash", o maestro Terence Fletcher (J.K. Simmos) vai a extremos na arte de desafiar o jovem Neiman, que muitas vezes extrapola os seus limites físicos e emocionais. Podemos dizer que Fletcher é um cara “old school” e acredita na sua forma de conduta, e acaba utilizando até mesmo outros bateristas no lugar de Neiman para estimular ainda mais a competição entre eles. E é claro que isso sempre dá resultado, pois todo ser humano é muito competitivo, seja na escola, no trabalho ou até na família. O filme deixa isso muito claro.
Sangue na bateria
Tirando os pequenos exageros e excessos de sangue espirrado nas peles da bateria --o já aconteceu comigo algumas vezes em shows, quando sem querer acertei ferragens da bateria--, eu me senti muito motivado pela dedicação, comprometimento e foco de Neiman em busca de seu objetivo. Em alguns momentos, ele acaba colocando sua vida pessoal de lado para poder se dedicar mais aos seus estudos. Mas com certeza o equilíbrio é sempre a melhor opção.
O filme realmente relata e deixa bem claro que, se você quer ser bom em alguma coisa, precisa realmente dedicar boa parte de sua vida se aperfeiçoando --e isso também não te garante nada, pois, além do talento e de tudo que você pode melhorar tecnicamente, ainda é preciso ter sorte e saber se relacionar com as pessoas certas, pois isso sempre abre portas.
Outra parte bem real é o momento em que ele desiste da carreira e deixa tudo para trás. Que atire a primeira pedra o músico que já não quis abandonar tudo por achar que não teria sucesso.
Realismo
Lógico que os mais puristas vão dizer que Miles Teller, intérprete de Neiman, não consegue nem dublar direito, e isso fica claro no filme, pois o som muitas vezes não tem nada a ver com o que aparece no vídeo. Mas tudo bem, porque, nesse caso, o que vale é a mensagem, que é muito clara e motivadora.
Resumindo, o filme é empolgante, pois se passa num ambiente real de grandes conservatórios musicais, onde todos têm o mesmo sonho: fazer sua estrela brilhar no palco.
No mundo da música existem coisas bem estranhas e que não têm explicações racionais, assim como bandas que passam décadas fazendo sucesso (e na maioria das vezes) os integrantes nem se dão tão bem, a ponto de não se encontrar fora do palco, quando não estão em turnê.
Vendo por esse lado, acho que os personagens de Terence e Neiman se completam muito bem no filme, pois, no final, tudo termina em cima de um palco, em um duelo matador entre os dois --um regendo e o outro tocando e solando. De certa forma, o autoritarismo do maestro, misturado com a personalidade ingênua e sonhadora de Neiman, mostram que nem sempre o fim justifica os meios.
No final de tudo, o que vale é o que você tem feito para realizar o seu sonho... E quem ainda não tem um precisa encontrar o seu, pois a vida é muito mais divertida quando seu objetivo está claro em sua mente.
* Aquiles Priester, nascido em Otjo em 25 de junho de 1971, é um baterista sul-africano radicado no Brasil, conhecido pelo seu trabalho nas bandas Hangar (da qual é criador) e Angra (da qual fez parte entre 2000 e 2008). Em 2010, foi convidado pela banda norte americana Dream Theater, juntamente com mais seis bateristas, para realizar testes a fim de ocupar o posto de baterista recém deixado por Mike Portnoy.
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