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Berlinale 2015 tem seleção "feminista" e brasileiros em mostras paralelas

Estéfani Medeiros

Do UOL, em Berlim (Alemanha)

05/02/2015 06h01

O tapete vermelho está estendido, os cinéfilos dormem na fila para a abertura da venda de ingressos e os últimos detalhes são acertados para o início do 65º Festival de Berlim nesta quinta (5). Com seis longas brasileiros em mostras paralelas, o festival alemão exibe ainda a estreia mundial de “Cinquenta Tons de Cinza”, incentiva produções de mulheres e recebe um total de 441 produções de 72 países.

Enquanto Hollywood discute a desigualdade de gêneros na indústria americana de cinema, na entrevista coletiva onde apresentou a programação deste ano, Dieter Kosslick, diretor e curador da Berlinale, explicou que o foco deste ano é mostrar “mulheres fortes em situações extremas”. Isto já começa com o filme de abertura: "Nobody Wants the Night", da espanhola Isabel Coixet, sobre a expedição da exploradora Josephine Peary (Juliette Binoche) ao ártico.

Em todas as edições do festival, é apenas a segunda vez que uma diretora faz as honras de iniciar o evento. A primeira foi a cineasta alemã Margarethe Von Trotta, com “Sheer Madness”, em 1983.

Seguindo nesta linha, na disputa pelo Urso de Ouro, Nicole Kidman interpreta a aventureira e espiã do governo britânico Gertrude Bell em “Queen of The Desert”, do alemão Werner Herzog. Cate Blanchett, além de ser a madrasta má de “Cinderela” (em exibição fora de competição), se une a Natalie Portman e Christian Bale em “Knight of Cups”, drama de Terrence Malick sobre os ônus da fama. Em “Woman in Gold”, que terá pré-estreia de gala, Helen Mirren dá vida à Maria Altmann, sobrevivente do holocausto e entusiasta da arte no pós-Segunda Guerra.

Na Mostra Panorama, “Dora or The Sexual Neurosis of Our Parents”, da sueca Stina Werenfels, conta a história de uma adolescente com deficiência mental em busca de sua independência e desenvolvimento. Usando os protestos de 2014 como inspiração, o curta “Ya” retrata uma ativista ligada a grupos que pedem mudança no governo argentino. Lidando com vulnerabilidade na juventude, Sanna Lenken dirige a história de uma jovem com transtorno alimentar em “My Skinny Sister”.

Para fechar a lista, a diretora Anna Muylaert é uma das representantes brasileiras da produção feminina. Em “Que Horas Ela Volta?”, com Regina Casé (que venceu como melhor atriz em Sundance), a diretora brasileira conta a história de uma empregada doméstica e mãe solteira que precisa lidar com os questionamentos da filha sobre a relação empregada e chefe.

Brasileiros

Além do filme de Muylaert, o Brasil, que não compete pelo Urso de Ouro este ano, conta com mais 12 representantes em diversas seções do festival. A única produção que disputa o Urso de Ouro de sua categoria, no entanto, é o curta-metragem "Mar de Fogo", de Joel Pizzini, que homenageia o cineasta Mário Peixoto, diretor do clássico mudo "Limite".

Premiado nas categorias melhor filme de ficção e melhor direção no Festival do Rio, “Sangue Azul” foi o selecionado para a abertura da Mostra Panorama na noite desta quinta. Dirigido por Lírio Ferreira, com Sandra Corveloni e Matheus Nachtergaele, e gravado em Fernando de Noronha, o filme traça a história de um menino de dez anos abandonado pela mãe, que temia um caso incestuoso entre ele e a irmã. Vinte anos depois, Zolah (Daniel de Oliveira) volta em busca de respostas. 

Cenas dos filmes "Praia do Futuro" e "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" - Divulgação - Divulgação
Em 2014, "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" foi o grande destaque brasileiro da Berlinale. O filme de Daniel Ribeiro ganhou prêmios do público e do júri da Mostra Panorama. "Praia do Futuro" concorreu na competição, mas perdeu o Urso de Ouro para o chinês "Black Coal, Thin Ice", de Diao Yinan
Imagem: Divulgação

O carioca Chico Teixeira apresenta sua segunda ficção após “A Casa de Alice”, de 2007. Em “Ausência”, Serginho (Matheus Fagundes) amadurece cedo para suprir as necessidades da família, ao mesmo tempo em que precisa lidar com a carência e os vazios no cotidiano.

Ainda na Panorama, mas na seleção de documentários Walter Salles volta a Berlim 17 anos depois do Urso de Ouro de "Central do Brasil" com "Jia Zhangke, um Homem de Fenyang", que examina o cinema do diretor chinês de "Um Toque de Pecado" e estreia na segunda (9).

Já “Beira-Mar”, dos gaúchos Filipe Matzembacher e Marcio Reolon estreia sexta (6) na Mostra Fórum, com foco em cinema experimental. O filme mostra as descobertas sexuais dos amigos Martin (Mateus Almada) e Tomaz (Maurício José Barcellos) durante uma viagem ao sul do país. O franco-brasileiro “Brasil S/A”, de Marcelo Pedroso, também é exibido nesta seção.

"Fuja dos Meus Olhos", curta de Felipe Bragança que retrata um campo de refugiados em Berlim, completa a lista com exibição na mostra Forum Expanded, destinada ao cinema de invenção, experimentação e novos formatos.

O evento segue até o dia 15, e os vencedores serão conhecidos no dia 14.