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Patrícia Arquette conta no Bafta que "Boyhood" tem salvado casamentos

Pedro Caiado

Do UOL, em Londres

08/02/2015 21h16

Patricia Arquette já venceu um Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante por "Boyhood" e estava prestes a receber mais um prêmio neste domingo (8), em Londres --o Bafta, a maior premiação britânica do cinema--, mas contou que o filme também trouxe a ela outro tipo de gratificação. 

“Eu quis fazer esse filme assim que o diretor me apresentou. O impacto de 'Boyhood' no público foi incrível. Casais me ligaram dizendo que decidiram não se separar, além de pessoas que resolveram perdoar membros da família”, disse a atriz de 46 anos ao UOL, nos bastidores do Bafta. Dirigido por Richard Linklater, "Boyhood" levou 12 anos para ser filmado. 

Já com o troféu em mãos, a atriz fez um discurso emocionado e dedicou o prêmio ao cineasta Tony Scott, que morreu em 2012. “Ele mudou a minha vida quando me ensinou a me ouvir como menina e como atriz. Toda ideia que eu tinha, ele dizia que era excelente. Eu amo vocês da Inglaterra por ter nos dado Tony Scott”, disse. Scott dirigiu "Amor à Queima Roupa" (1993), filme que colocou Arquette em evidência.

Sobre a falta de papéis para mulheres com mais de 30 anos, ela reclamou. “Atores nao querem ser escalados para trabalhar com mulheres da mesma idade. Eu acho engraçado. Às vezes, em um filme com um ator como o Harrison Ford, a mulher que contracena com ele não é alguns anos mais nova, mas vinte anos mais nova”, criticou. “É ridículo. Nós temos que acabar com isso. Vamos escalar de acordo com a idade do protagonista masculino. É um bom começo. Eu adoro envelhecer. Era tanta pressão, estranheza e tensão sexual quando eu era mais jovem. Hoje me sinto livre e adoro”.

Ethan Hawke, indicado como melhor ator coadjuvante por "Boyhood", também falou do filme: “Para gastar 12 anos fazendo um filme, ele tinha de ser bom e especial. A maior surpresa para mim foi o sucesso. É um longa que me emociona. O Richard [Linklater] é super dedicado ao mundo do cinema, e humilde”, disse ele, que participou de oito produções do diretor americano.

 

8.fev.2015 - O ator Eddie Redmayne, que venceu o Bafta de melhor ator por seu papel de Stephen Hawking em "A Teoria de Tudo" - Suzanne Plunkett/Reuters - Suzanne Plunkett/Reuters
O ator Eddie Redmayne, que venceu o Bafta de melhor ator por seu papel como Stephen Hawking em "A Teoria de Tudo"
Imagem: Suzanne Plunkett/Reuters

O Bafta é realizado no coração do bairro Convent Garden, no centro da capital inglesa, na Royal Opera House. Por ali passaram também Michael Keaton, Edward Norton, Eddie Redmayne, Felicity Jones, Benedict Cumberbatch, enquanto fãs se amontoavam para tentar ver os seus ídolos durante o fim da tarde.

O Brasil também esteve presente com o filme "Trash: A Esperança Vem do Lixo", uma coprodução Brasil-Reino Unido, filmada no Rio, em português, com grande elenco brasileiro. O filme concorria ao prêmio de melhor filme de língua não inglesa e foi derrota pelo polonês "Ida".

Kris Thykier, produtor do longa, explicou ao UOL: “No livro, a história era baseada em um pais imaginário, e nós decidimos filmar no Brasil. Foi um desafio. Os três meninos principais, por exemplo, não são atores, são crianças reais e tivemos que trabalhar a historia com eles em português”, disse. “É um privilegio estar concorrendo entre filmes tão fortes nesse categoria”.

Eddie Redmayne, que interpreta o cientista Stephen Hawking em "A Teoria de Tudo" e que venceu o prêmio de melhor ator, confessou seu grande medo. “Eu não queria decepcionar o Stephen [Hawking]. Quando soubemos que eles gostaram do filme, foi a melhor notícia”, disse o londrino de 33 anos. "Acho que o desafio também foi filmar as várias etapas da evolução da doença fora da ordem cronológica”, disse, referindo-se à esclerose lateral amiotrófica. O físico Stephen Hawking também compareceu ao tapete vermelho.

A performance de Redmayne foi elogiada por seu concorrente Benedict Cumberbatch, indicado por "O Jogo da Imitação". "Não há como competir com o Eddie. Esse é o ano dele", disse o astro da série "Sherlock".

Um dos filmes mais falados da temporada de prêmios, "Birdman", que teve dez indicações, foi representado pelos atores Michael Keaton e Edward Norton. Norton, indicado como ator coadjuvante, elogiou o colega, indicado na categoria de melhor ator. “Eu cresci assistindo a ele. Ele teve grande influência na minha carreira”, disse, no tapete vermelho. “Ele é tão engraçado, mas eu que tinha que manter a postura de sério durante as filmagens”. Já Keaton foi modesto. “Alejandro [Inãrritu] fez um experimento e ninguém sabia se daria certo”, disse.

A ausência de "Selma"

Um dos pontos que causaram polêmica no Bafta deste ano foi a ausência de "Selma", indicado ao Oscar de melhor filme e ignorado pela Academia Britânica de Cinema. A diretora do Bafta, Amanda Berry, explicou ao UOL: “Nós ficamos de coração partido, mas o único motivo foi a falta de tempo para que o filme fosse assistido pelos membros. Antes de a votação começar, havia apenas três sessões de exibição o filme, e ele foi visto por algumas centenas de pessoas. Porém, são 6.500 membros do Bafta.”

Outra ausência notável foi a biografia "Mr. Turner", estrelada pelo ator Timothy Spall, presente apenas na homenagem ao diretor Mike Leigh por seus 40 anos na industria cinematográfica.