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Berlinale 2015 destaca iraniano proibido, "50 Tons" e brasileiro premiado

Jafar Panahi, de "Taxi"; Regina Casé em "Que Horas Ela Volta?"; o casal de "50 Tons" e James Franco brilharam no 65º Festival de Berlim - Montagem/UOL
Jafar Panahi, de "Taxi"; Regina Casé em "Que Horas Ela Volta?"; o casal de "50 Tons" e James Franco brilharam no 65º Festival de Berlim Imagem: Montagem/UOL

Estefani Medeiros

Do UOL, em Berlim (Alemanha)

16/02/2015 11h01

Com a última exibição do documentário “Cobain - Montage of Heck” às 23h deste domingo (15), a Berlinale encerra sua 65ª edição. Em 2015, o festival exibiu 400 filmes e recebeu 310 mil espectadores, dez mil a mais do que no último ano, reafirmando seu status de maior público em festivais de cinema.

A première de "Cinquenta Tons de Cinza", a volta dos diretores alemães Wim Wenders e Werner Herzog com produções de elenco hollywoodiano, a onipresença de James Franco e o Urso de Ouro para "Taxi" foram os principais destaques. Ponto alto também foi a estreia do brasileiro "Que Horas Ela Volta?", de Anna Muylaert, favorito do público entre 60 filmes. 

Nicole Kidman, Natalie Portman e Christian Bale passaram pelo tapete vermelho em uma edição mais morna em relação ao último ano, quando Lars Von Trier e Shia LaBeouf criaram polêmicas na estreia de “Ninfomaníaca - Parte 1”. Os exageros do cinema americano foram levados com ironia. Prova disso são as risadas da crítica na première de "Cinquenta Tons" de Sam Taylor Wood e na primeira cena de Robert Pattinson em “Queen of The Desert”, quando o galã da saga “Crepúsculo” se apresenta vestindo um pomposo turbante.

“Que Horas Ela Volta?” e “Ausência” entre os favoritos do público

Entre as ficções brasileiras, as atenções se voltaram para a comédia “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert, e do melancólico “Ausência”, de Chico Teixeira. O comentário geral é de que as duas produções são reflexo das mudanças políticas e sociais do país, tocando em temas como o PEC das domésticas, falhas da educação e as ausências na vida de um jovem pobre que amadurece precocemente. Em 2014, o público colocou “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, de Daniel Ribeiro, em segundo lugar.

Estreia da trilogia “Cinquenta Tons” foi recebida com deboche e histeria

Com cosplay de Christian Gray, adolescentes histéricas e descaso da crítica, a adaptação cinematográfica do soft porn de E. L. James estreou como assunto paralelo no festival. Mesmo sem ter mostrado a que veio, Jamie Dornam assinou autógrafos em pôsteres e tirou os gritos mais estridentes das fãs em sua passagem pelo tapete vermelho do festival.

“Knights of Cups” é o pior filme de Terrence Malick

Para a “Variety”, “o sétimo longa do diretor é vazio como o estilo de vida que exibe”, a BBC considerou este como o pior filme do recluso cineasta, com um roteiro déjà vu sobre a superficialidade da vida em Los Angeles e um personagem principal raso. Bale disse em encontro com jornalistas que improvisou nas cenas e atuou sem roteiro no drama.

“Taxi” reafirma cunho político do festival alemão

"Ele criou uma carta de amor ao cinema", disse o presidente do júri, Darren Aronofsky, ao entregar o Urso de Ouro para a pequena Hanna Saeidi, sobrinha do iraniano Jafar Panahi, no momento mais emocionante da premiação que aconteceu neste sábado (14), no Berlinale Palast.

O diretor foi proibido de filmar em seu país por 20 anos e recentemente condenado a seis anos de prisão por incitar propaganda contra o governo. No longa com cara de documentário, Panahi vive um carismático taxista e filma diálogos com a mulher, a sobrinha e histórias de atores anônimos com uma câmera portátil no longa “Taxi”. Justificando a escolha do júri, o curador Dieter Kosslic disse que a “Berlinale é e sempre foi um festival político.”

Gravado ‘ao vivo’ e sem edições, “Victoria” é o filme alemão de 2015

Em um ano com estreias de grandes nomes do cinema alemão, como “Everything Will Be Fine”, de Wim Wenders, e “Queen of The Desert”, de Werner Herzog, um filme de baixo orçamento e muita criatividade foi o mais elogiado pelo público e pela crítica. Vencedor do prêmio de Contribuição Artística Excepcional, “Victoria” é um “Corra, Lola, Corra” contemporâneo, mas chamou a atenção pela forma como foi produzido.

O longa de Sebastian Schipper é filmado em plano sequência e em único take de 160 minutos, um thriller que levou apenas três filmagens para ser finalizado. Com roteiro improvisado cena a cena, o longa acompanha a trajetória de 24 horas de Victoria (a espanhola Lala Costa) que se envolve com um grupo de quatro jovens alemães e é persuadida a dirigir o carro da fuga em um assalto a um banco. 

10.fev.2015 - O diretor alemão Wim Wenders e o ator norte-americano James Franco posam para fotógrafos para promover o filme "Everything Will Be Fine", em que trabalham juntos, durante o Festival de Berlim - Tobias Schwarz/AFP - Tobias Schwarz/AFP
Überall: presente em quatro produções, James Franco foi figura marcante no Festival
Imagem: Tobias Schwarz/AFP

James Franco onipresente

Era difícil caminhar pelas ruas da Potsdamer Platz, onde o festival é realizado, sem esbarrar em algum dos pôsteres de divulgação do festival com o rosto de James Franco. Situação semelhante aconteceu nas telonas, onde o ator protagonizou os longas de Wenders e Herzog, a produção independente “I Am Michael” e a exibição paralela de “A Entrevista”.

Em entrevista que o UOL participou, Franco diz que este é um reflexo de diferentes trabalhos que está perseguindo. “As pessoas gostam de dizer que são muitas coisas, mas eu vejo que tudo que faço está conectado de uma forma ou de outra. E atrás de tudo isso está meu interesse em coisas diferentes e perseguir novas formas de criatividade, de reinventar e encontrar novas abordagens. Seja na produção, na escrita ou na direção, elas são apenas saídas alternativas.”

Ao mesmo tempo que interpreta quatro personagens diferentes: um escritor, o amante de uma grande aventureira, um ex-ativista gay e um jornalista vaidoso, a impressão é de que os seus esforços para se desenvolver como ator são grandes, mas nas telas o efeito ainda é praticamente o mesmo, com atuações que em algum momento se assemelham. 

Discussões sobre a mulher no cinema e censura foram as pautas da vez

O festival anunciou antecipadamente seu esforço em criar uma edição mais feminista e esse foi o assunto que pautou as discussões. A espanhola Isabel Coixet, que fez a abertura com “Nobody Wants The Night”, comentou que “não se limita cinema pelo gênero”, já a diretora polonesa Malgorzata Szumowska preferiu comemorar. “Sou diretora, sou mulher e estou aqui hoje”, comentou ao receber o Urso de Prata de Melhor Direção com o drama performático “Body”.  

A censura também foi um tema recorrente nas discussões com a imprensa. Diretor do elogiado longa mexicano sobre os amores do cineasta soviético Serguei Einsenstein, Peter Greenway comentou a censura de seu filme na Rússia, que negou ter proibido o roteiro. “Nós sabemos sobre a censura que acontece no seu país. Vamos nos perguntar porque a Rússia nunca fez um bom filme sobre Eisenstein? Porque ele é homossexual”, discutiu com o repórter.

Charlie Hebdo enviou cartum para o festival

O Cinema Fund, evento paralelo à Berlinale que arrecada fundos e incentiva a produção cinematográfica sobre a paz, convidou os jornalistas do “Charlie Hebdo” para uma conversa sobre liberdade de expressão. A revista recusou enviando um desenho onde uma pomba branca com um galho de oliveira na boca pergunta: “Você está falando comigo?”. No mesmo evento, integrantes da banda punk Pussy Riot fizeram uma homenagem ao artista chinês Ai Weiwei, que deu um depoimento em vídeo.