Levei socos em quase todas as partes do corpo, diz Gyllenhaal sobre Nocaute
“Nocaute” é, essencialmente, um filme de boxe, não muito diferente dos enredos que o espectador se acostumou a encontrar nas muitas narrativas similares, mais ou menos bem-sucedidas, quando Hollywood se debruça sobre o esporte.
Mas o longa é, também, uma plataforma para a impressionante transformação de Jake Gyllenhaal no boxeador Billy Hope, personagem de ficção oriundo das ruas de Nova York --transformação alcançada com treinamento pesado e até surras reais.
"Eu levei muitos socos de verdade nas filmagens, alguns foram parar no filme, outros não. Mas depois de treinar tão arduamente e de ver tantas lutas, ao vivo e na TV, você espera mesmo aquilo tudo. Não tinha como filmar esta história com um dublê ou com uma proteção especial para o meu rosto, por exemplo", conta Gyllenhaal.
"A pior parte foram os seguidos treinamentos com boxeadores de verdade. Mas eles me mostraram, literalmente, a melhor maneira de apanhar no ringue. Levei socos em quase todas as partes de meu corpo", diz o ator, sorriso aberto, dentes incólumes.
“Nocaute” estreia esta semana nos cinemas brasileiros e tem direção de Antoine Fuqua, ele próprio um boxeador amador, conhecido do público por “Dia de Treinamento” (Oscar de melhor ator para Denzel Washington e em vias de se transformar em série televisiva nos EUA). O elenco conta ainda com Rachel McAdams, como Maureen, a mulher e fonte de inspiração de Hope, e Forest Whitaker, no papel do ex-lutador Tick, mentor do personagem de Gyllenhaal depois de este perder, em uma sucessão de tragédias pessoais, a carreira, o dinheiro, a casa, a família e a guarda de sua filha, vivida por Oona Laurence.
Fuqua --que depois do remake de “Os Sete Samurais” voltará a dirigir Gyllenhaal em “The Man Who Made It Snow”, a versão para o cinema do livro de memórias de Max Mermelstein, contrabandista de drogas americano, íntimo de Pablo Escobar, ainda sem título em português--, filma como se o espectador estivesse, ele também, no ringue. Sangue, saliva e hematomas são retratados em close, chegando a provocar incômodo.
"Treinei seis dias por semana, duas vezes por dia, durante cinco meses", conta o ator. "Honestamente, meu maior medo era parecer um idiota no ringue, alguém tentando imitar de forma tacanha um profissional. Antoine (Fuqua) me disse: 'vamos filmar como se fosse uma luta de boxe que passa aqui nos EUA no canal HBO, sem truques, sem dublês, bem realista, você topa?'. Bem, topei, mas desde que treinasse duas vezes por dia, ou seja, na minha cabeça oca, os cinco meses virariam dez (risos). Não foi exatamente o que aconteceu, mas aprendi muita técnica, muito mais do que fazendo exercícios físicos apenas", diz.
Paternidade
Para além do boxe, Gyllenhaal acredita que o filme é centrado na história de um homem simples que ganhou fama e dinheiro, perdeu tudo por conta de contingências da vida e da inabilidade de lidar com sua raiva social, e precisou descobrir uma maneira de ser um bom pai.
"Hope levava para o ringue seu ódio contra o sistema. Mas ele acaba levando para o mundo real também esta revolta e destrói sua própria vida. A raiva pode ser um motivador no ringue, mas na vida real pode se transformar em uma energia destrutiva", acredita.
"Como criar uma filha daquele jeito, com tanta raiva? Antoine me disse logo no começo que queria fazer 'Nocaute' não apenas pelo amor que ele tem ao boxe, mas também para tratar da paternidade, do quão transformadora ela pode ser. O filme me deu a certeza de que serei daqueles pais que farão tudo por seu filho. O sentimento eu já tenho e o usei com Oona o tempo todo. Para o Billy e para mim também, ela foi a presença mais importante no set, de longe", diz.
Tradição do boxe
Gyllenhaal diz que “Touro Indomável”, quiçá o mais celebrado dos filmes americanos centrados no universo do boxe, não foi exatamente uma influência direta na criação de seu Billy Hope. O Jake La Motta de Robert De Niro, ele diz, foi uma inspiração para a vida inteira, não apenas para seu "filme de boxe".
"Aquela é uma aula de interpretação para qualquer ator interessado em aprender o ofício, e vi o filme muitas vezes. Mas não usei nada da interpretação de De Niro para criar o Billy Hope. Aliás, não voltei a nenhum filme de boxe durante o laboratório", afirma.
"Vi outros filmes. Junto com Antoine (Fuqua), assisti de novo, com atenção redobrada 'Meu Nome é Joe', de Ken Loach. Este foi talvez a maior influência estilística para a gente. Logo percebemos que o mais importante era entender a história deste personagem, o passado, a alma de Billy Hope, mais do que pensar em outros filmes que tiveram no ringue um de seus cenários principais. Dito isso, adoro, agora ainda mais, um bom filme de boxe", diz o ator.
Por conta do lançamento do filme nos Estados Unidos, críticos inevitavelmente começaram a divulgar suas listas de melhores filmes de boxe de todos os tempos. As seleções incluem títulos como “Rocky: Um Lutador” (1976), o próprio “Touro Indomável” (1980), “O Lutador" (2010) e “Ali” (2001). A revista “Entertainment Weekly” já incluiu “Nocaute” entre os seus dez mais, considerado a atuação de Gyllenhaal, “muito além de sua transformação física”, como o ponto alto do filme.
Oscar
A opinião é dividida por boa parte da crítica, que considerou a interpretação considerada a melhor do galã de 34 anos. É, com justiça, uma das mais cotadas até o momento para a indicação de Oscar de melhor ator.
"Esta conversa sempre acontece nesta época do ano, e posso dizer que me preocupo muito mais com meus fãs do que com a premiação em si. Ano passado eles ficaram desapontados por eu não ter sido lembrado pela Academia (pelo insano Louis Bloom de “O Abutre”). Fiquei triste, sim, mas por eles terem ficados chateados. Tudo o que importa para mim é fazer parte de um bom filme. E um filme bom é por si só um milagre, é algo dificílimo de se fazer --vejo isso agora com mais clareza depois de ter começado a produzir. Ou seja, o importante para mim é o filme ser bom. Se eu for indicado, melhor ainda", diz Gyllenhaal.
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