Topo

Carisma de Lawrence salva aventura modorrenta de último "Jogos Vorazes"

Roberto Sadovski

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/11/2015 10h42

De todos os filmes baseados na literatura para jovens adultos, a série "Jogos Vorazes", cuja parte final estreia nesta quarta (18), é a mais redonda. Existe um comentário social, mesclado com uma pitada de romance adolescente, uma dose de revolta contra o sistema e o sofrido triunfo das forças do bem. É basicamente a mesma arquitetura de "Maze Runner" e "Divergente" (para ficar nos outros que também fizeram sucesso), executada com mais dinheiro e um elenco mais classudo, de Julianne Moore a Philip Seymour Hoffman (em seu último papel), passando por um leque de carinhas bonitas e talentosas da nova geração.

Ainda assim, é um prato requentado, em que a criatividade resume-se a mudar a ambientação e bolar algum dispositivo para montar a trama em torno dele.

No caso de "Jogos Vorazes", a trama é disparada pelo torneio que batiza a série, quando representantes de cada “distrito” que constrói a sociedade futurista esfacelada competem até a morte em um torneio transmitido ao vivo para toda a nação. Pão, circo e sangue, entretenimento cruel como maneira de apaziguar a massa.

Nada justifica a absurda preguiça em criar uma aventura tão modorrenta. Em um filme dessa escala, é esperado uma mistura de desenvolvimento de personagem com espetáculo. Mas os roteiristas (que incluem a própria autora) não parecem dar importância a isso.

Os dois primeiros filmes da série –baseada nos livros de Suzanne Collins– basicamente abraçam os jogos, enquanto a última parte, dividida em dois filmes, concentra-se na revolta contra o poder central, uma ditadura representada pelo presidente Snow (Donald Sutherland). A figura messiânica é uma jovem do distrito mais pobre, Katniss Everdeen, que passa de vitoriosa surpresa a face da revolução, carregando consigo a chance de quebrar o totalitarismo do regime apresentado na série.

No papel de Katniss, Jennifer Lawrence é também o maior trunfo da franquia. A atriz mais bem paga e mais valiosa da Hollywood atual é um caminhão de carisma, e carrega sozinha e sem esforço os "Jogos Vorazes" até o final.

Mas até ela tem um limite para elevar o material acima da mediocridade de seus pares. É certo que o diretor Francis Lawrence ("Eu Sou a Lenda") sabe a vantagem que é ter Jennifer como protagonista, e ele a mantém no foco da narrativa por mais de duas horas de filme. É seu primeiro pecado: a trama apresenta múltiplos pontos de vista e diversos focos da ação –nada, porém, que o filme se dê o trabalho de mostrar.

A batalha final é mencionada, nunca mostrada. Vemos suas consequências, mas nunca a jornada. Fixar a trama na figura de Jennifer pode fazer sentido do ponto de vista comercial, mas a narrativa é castrada e sofre por isso.

Assista ao trailer do filme

UOL Entretenimento

O que leva ao segundo pecado deste "A Esperança - O Final". Nada justifica a absurda preguiça em criar uma aventura tão modorrenta. Em um filme dessa escala, é esperado uma mistura de desenvolvimento de personagem com espetáculo. Mas os roteiristas (que incluem a própria autora) não parecem dar importância a isso.

Um exemplo é a “missão” de Katniss e seu batalhão –que inclui seus dois pares românticos, o ainda perturbado Peeta (Josh Hutcherson) e o eterno insatisfeito Gale (Liam Hemsworth)– de se infiltrar na capital e assassinar Snow. A certa altura, o grupo é cercado e enfrenta armadilhas letais, o que causa um número considerável de baixas. Mas são mortes de anônimos, que nunca tiveram espaço para se tornar personagens completos. Como resultado, ninguém dá a mínima quando o "Soldado nº 2" bate as botas.

Sem espetáculo para encher os olhos ou personagens com quem a plateia possa se identificar, resta mesmo a Jennifer Lawrence segurar o rojão. O que ela faz com dignidade, conduzindo sua Katniss de sobrevivente a guerreira, passando por garota-propaganda e mártir, de maneira crível.

Mesmo quando seus diálogos se tornam discursos bobinhos sobre “nós contra eles”, a atriz lhes confere credibilidade –o que inclui o clímax absurdo, o epílogo sem sentido e a total falta de emoção na conclusão da série.

Ainda assim, com um Oscar embaixo do braço e projetos cada vez mais bacanas pela frente, ela pode se despedir de "Jogos Vorazes" com sensação de dever cumprido. Mesmo que, dificilmente, deva olhar para trás com orgulho.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Carisma de Lawrence salva aventura modorrenta de último "Jogos Vorazes" - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade