"Kung Fu Panda 3" sela "negócio da China" da DreamWorks com o mercado local
Nunca foi tão exata a afirmação de que a franquia “Kung Fu Panda” é um negócio da China. O terceiro filme em torno do panda Po, seus amigos mestres do kung fu e o cenário passado em uma imaginária China milenar chega aos cinemas brasileiros neste fim de semana como a Oriental DreamWorks assinando a coprodução.
Trata-se do braço chinês, formado em 2012 por investidores dos dois lados do Pacífico, da produtora fundada pelo trio Jeffrey Katzenberg, Steven Spielberg e David Geffen na primeira metade dos anos 1990. Resultado direto do sucesso de público na Ásia dos dois primeiros tomos da franquia --“Kung Fu Panda 2” bateu todos os recordes na China, arrecadando US$ 93 milhões nas bilheterias locais-- o filme é o resultado mais concreto do desejo de Hollywood de se expandir para o complicado mercado da segunda maior economia do planeta.
"Para nós, esta trilogia é, essencialmente, uma carta de amor à China e ao kung fu. Quando fazíamos o primeiro filme, o mais importante era que ele fosse encarado como autêntico, especialmente pelos chineses", diz a diretora americana de origem coreana Jennifer Yuh. "Quando fomos à China na época do lançamento de 'Panda 2', fiquei impressionada com a reação das pessoas, tanto dos adultos quanto das crianças. O que mais ouvi foi 'vocês fizeram a China parecer cool, vocês parecem ser capazes de mostrar uma China antiga, com detalhes, que nem a gente conseguiu revelar'. Ou seja, todo o nosso trabalho de pesquisa, percebi naquele momento, valeu a pena", completa ela, que foi responsável pelo segundo e o terceiro filmes e é uma das responsáveis pelos efeitos visuais do primeiro.
Mercado chinês
Exatamente como nas duas primeiras partes da franquia, a China de “Kung Fu Panda 3” passa longe dos problemas centrais enfrentados pelos estúdios americanos ao tentarem vender seu peixe além-mar: a limitação do número de filmes estrangeiros liberados para lançamento anual e a censura exercida pelo governo de Pequim.
Mas “Kung Fu Panda” jamais seria uma vítima da segunda questão. A animação apresenta uma China mítica em que animais --nas vozes de estrelas como Jack Black (o panda Po), Angelina Jolie (a Tigresa) e Dustin Hoffman (Shifu), entre outros-- dominam a arte do kung fu, em enredos centrados na luta de mocinhos contra bandidos e na valorização da mensagem da amizade entre indivíduos diferentes como receita para o bem viver. Os filmes foram um sucesso de público e crítica, com uma bilheteria mundial de US$ 568 milhões (com os preços de ingressos ajustados pela inflação, mas sem incluir ainda os resultados do filme derradeiro em mercados como o brasileiro).
Por isso mesmo causou surpresa aos incautos a decisão de se lançar “Kung Fu Panda 3” no inverno e não no verão do Hemisfério Norte, a parte mais nobre do calendário da indústria cultural americana, ao contrário dos dois filmes anteriores. O motivo? O lançamento mundial se dar durante o Ano Novo chinês, na virada de janeiro para fevereiro, um dos principais feriados do gigante asiático. O resultado foi uma bilheteria de estreia maior na China (US$ 51 milhões) do que nos EUA (US$ 41 milhões), algo impensável para Hollywood anteriormente.
"Nós nunca sentimos qualquer interferência dos chineses em decisões estratégicas referentes ao filme. E é sempre bom lembrar que foram eles, depois da explosão de 'Kung Fu Panda 2', que nos procuraram, interessados em estabelecer uma parceria centrada na ideia de aprenderem a fazer algo similar em solo chinês", diz o italiano Alessandro Carloni, que assina com Yuh a direção do terceiro filme.
A criação da Oriental DreamWorks possibilitou o lançamento de “Panda 3” como um filme local, e não americano. Uma joint venture de US$ 330 milhões, a empresa é uma parceria da produtora americana com um fundo de investimentos controlado pelo governo chinês e o grupo Shanghai Media. Em 2014, este grupo fechou com a Disney uma pareceria para a produção de filmes, nos Estados Unidos e na China, em torno de temas ligados à realidade chinesa.
Para a franquia “Kung Fu Panda”, a parceria com a China se deu durante a promoção do segundo filme, quando a equipe técnica viajou para o país. No lançamento para a imprensa nos Estados Unidos, em 2011, Katzenberg já anunciara a intenção de bolar um formato de negócio que burlasse as principais restrições do mercado chinês. Em uma época em que a economia chinesa crescia sem freios, ele ainda ousou fazer a aposta: “em uma década, lá estará o maior mercado audiovisual do planeta”.
Exagero ou não, os chineses se deram conta, com o sucesso de “Kung Fu Panda”, do real tamanho de seu mercado interno e o desejo de seu público de ver animações relacionadas à riquíssima cultura local. Um desenho produzido no país, com o título em inglês de “Monkey King: Hero is Back”, quebrou no ano passado o recorde de bilheteria de “Panda”.
"Quando nos propuseram a parceria, os chineses queriam aprender a fazer algo que, eles mesmos reconhecem, jamais teriam explorado antes, como 'Kung Fu Panda 1', até por conta das limitações da indústria do cinema local. Pois o mix EUA-China está proporcionando à produção local uma diversificação que tende a aumentar, beneficiando o espectador", aposta Carloni.
O filme
“Kung Fu Panda 3” começa de onde o segundo filme terminou, com a trama girando em torno das origens familiares do panda Po e da descoberta de seu pai biológico, com voz de Bryan Cranston. Um dos pontos altos no visual do filme é a Vila dos Pandas, localizada em uma montanha escondida no centro da China.
"A viagem à China foi importantíssima para nós. A concepção visual do terceiro filme vem diretamente da visita à base de proteção dos pandas em Chengdu", conta Jennifer Yuh. "As cores, a névoa, as casas, vieram diretamente dos milhares de vídeos e fotografias que fizemos lá. E agora, com a coprodução, para o terceiro filme, tudo mudou. Tivemos acesso a artistas locais e especialistas trabalhando junto conosco, o que sintetiza a receita da franquia 'Kung Fu Panda': é uma ponte EUA-China, com seu mix de fantasia e realidade, o imaginário sendo apresentado no enredo e no visual e o real escancarado na emoção dos personagens".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.