Topo

Paralelos com a política atual dos EUA dividem atores de novo "Divergente"

James Cimino

Colaboração para o UOL, em Los Angeles

10/03/2016 12h37

Para quem não sabe nada de Guerra Fria, de nazismo, do conflito Israel x Palestina ou que desconhece o que está acontecendo na campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos neste ano, o enredo do terceiro filme da série “Divergente”, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (10), pode ser considerado só mais uma das fantasias superlativas de Hollywood.

No longa, baseado na série de livros da autora Veronica Roth, a cidade de Chicago, em um futuro distópico, está cercada por um muro. Seus moradores fazem parte de um experimento genético e lá vivem os que não são considerados uma raça pura --algo que soa muito próximo a ideias de personalidades políticas de hoje e do passado. Mesmo assim, o elenco do filme se mostrou no mínimo relutante em encontrar paralelos com o mundo real.

A reportagem do UOL perguntou aos atores que tipo de mensagem o filme leva ao público jovem em um tempo em que os radicalismos parecem ter novamente voltado às discussões, especialmente nas redes sociais.

Para a atriz Octavia Spencer, que no filme interpreta Johanna Reyes, uma coisa não tem nada a ver com a outra. “Nesta sociedade distópica, o muro era necessário, por causa de um experimento de que as pessoas não sabiam fazer parte. Mas era uma maneira de manter os resultados do experimento puros. Eu não necessariamente acho que haja alguma relação entre isso e a forma como alguns candidatos [à presidência nos EUA] expõem suas opiniões. Não gosto de misturar os dois porque isso é entretenimento e o outro é política.”

Quando a reportagem retrucou que o filme era entretenimento político, Naomi Watts, que interpreta Evelyn Johnson-Eaton, veio em defesa dizendo que o livro tinha sido escrito antes da campanha eleitoral. No entanto, não conseguiu se desviar do assunto por muito tempo ao comentar o destino de sua personagem no novo filme, que, após se livrar da ditadora Jeannine (Kate Winslet), acaba se intoxicando com o poder . “[A tentação é] muito grande… Só uma provinha do gosto pelo poder e as pessoas já ficam gananciosas…”, comentou.

Já a protagonista Shailene Woolley se limitou a dizer que o filme “tem muitas mensagens” e que a que levou para sua vida foi “o senso de comunidade, lutar pelo que se acredita e pelos seus direitos”.

Mas mesmo que os atores fujam das comparações, a fantasia de “A Série Divergente: Convergente” tem relação com vários acontecimentos bem reais. Com a mesma ideia de raças puras e raças impuras Hitler assassinou cerca de 6 milhões de pessoas não arianas. Após isso, a capital da Alemanha, Berlim, foi dividida entre capitalistas e socialistas, tendo sua área ocidental cercada por um muro que era vigiado 24 horas por dia, com atiradores e até um campo minado.

No Oriente Médio, os Estado de Israel já cercou com um muro diversas partes do território palestino. E nos Estados Unidos, considerada a maior democracia do mundo, hoje, o pré-candidato republicano à presidência Donald Trump já disse que pretende fazer o mesmo na fronteira mexicana para evitar a imigração ilegal.

Quem deu a real sobre esses paralelos foi Zoë Kravitz, a Christina do filme, que disse achar assustador que a história retrate o discurso real de certas pessoas. 

“Acho que a única maneira de se fazer filmes sobre futuros distópicos é falar de problemas atuais com os quais as pessoas possam se relacionar. As pessoas gostam de ver filmes que sejam reflexo do que acontece hoje. Como 'Jogos Vorazes', que fala da obsessão que as pessoas têm com o entretenimento e o quão longe aquilo pode ir.”