Andreia Horta fez 5 meses de técnica vocal, mas voz em "Elis" é a original
Protagonista do primeiro longa brasileiro exibido na competição do Festival de Cinema de Gramado, a atriz mineira Andreia Horta, 33, foi aplaudida de pé após a sessão de “Elis”, cinebiografia da cantora Elis Regina, na noite do último sábado (27). Ela já vem sendo cotada para ganhar o Kikito pelo papel este ano.
“Se não levar, é golpe”, bradou um dos jornalistas presentes na coletiva de imprensa em que ela, o diretor estreante Hugo Prata e parte da equipe do filme deram entrevista, no início da tarde deste domingo. Andreia reagiu com muitos sorrisos e gargalhadas.
“Fiz aniversário há um mês. Estou numa fase de recomeço de algumas coisas, e o filme abre esse meu momento. Desde jovem, quis experimentar a Elis no meu corpo. Aí, durante o processo, eu pensei: ‘Que ideia! Como eu vou fazer isso? Como é que eu falo?’ Tenho dito não para muitos convites, mas tido sorte com os que eu digo sim.”
Segundo Andreia, nos últimos tempos ela tem interpretado na TV e no cinema várias mulheres fortes, com dúvidas, angústias, medos e, também, muita coragem. “Surgiram muitos papéis corajosos no meu caminho. Aí parece que eu sou também”, disse ela, referindo-se principalmente a Elis, Joaquina, da minissérie da Globo “Liberdade, Liberdade”, Maria Clara, de “Império”, e Alice, papel-título da série da HBO que a atriz protagonizou em 2008.
Para personificar uma das maiores vozes do Brasil, Andreia passou por uma preparação de cinco meses, com fonoaudiólogo, preparador de corpo e vocal. Apesar disso, a voz dela não aparece no filme —apenas a original, de Elis. Mas, para que as interpretações parecessem reais, a atriz precisou aprender a se movimentar, gesticular, falar e até sorrir como a “Pimentinha”.
“Eu não sou cantora, só canto lá em casa. A voz que valeria, no final, era a da Elis, mas eu tinha que preencher esse corpo todo, com energia, a veia do pescoço precisava saltar junto, ela chegava a dizer oito frases num fôlego só”, destaca. Nos ensaios, Andreia gravava com diferentes músicos, que também foram “dublados” na pós-produção.
Fã de Elis desde a adolescência, quando cortou o cabelo ao estilo “joãozinho”, a atriz afirma que, como preparação, ouviu muito as músicas da cantora gaúcha, assistiu a várias entrevistas dela e trabalhou “mais como pensadora do que com a forma”. “Ela morreu em 1982, e eu nasci em 1983. E ela tem uma musicalidade e uma fala muito particulares. O que foi me acalmando foi essa vontade de criar, um desejo de emulação”, contou.
Quatro anos de projeto
O diretor Hugo Prata, que dirige seu primeiro longa —antes disso, havia feito três curtas e videoclipes para a MTV—,contou que seu primeiro café com Andreia para falar do filme aconteceu em 2012. De lá para cá, fez pesquisas históricas, roteiro, pré-produção, trabalhos de cenário, maquiagem e figurino.
“Claro que muitas passagens e figuras importantes da vida dela [como Tom Jobim e Milton Nascimento] ficaram de fora. Tivemos duas horas para contar a trajetória de uma personagem muito rica e controversa”, destacou o cineasta, que rodou o longa entre abril e setembro do ano passado. A estreia no circuito comercial está prevista para 24 de novembro.
Prata disse ainda que tentou não ficar atrelado apenas ao mito de Elis Regina, mas quis mostrar também a mulher, o mercado de trabalho extremamente machista e as difíceis relações que ela teve com o pai, os maridos e a indústria fonográfica.
“Se hoje já é difícil para as mulheres, imagina naquela época”, afirmou o diretor, que diz não gostar do rótulo cinebiografia, porque, segundo ele, o filme não abraça tudo, mas faz apenas um recorte sobre a trajetória de Elis.
Ele rebate a crítica de que esta seria uma produção cronológica e didática demais: “Tanto que já começamos com ela aos 18 anos, indo para o Rio. A infância toda ficou de fora”.
Daí em diante, vários momentos marcantes da vida e da carreira de Elis são mostrados: os primeiros shows em Copacabana, com Miéle e Ronaldo Bôscoli, o estouro na TV em São Paulo e os embates com a ditadura e também com a esquerda, que não a perdoou quando ela foi obrigada a cantar para os militares em uma olimpíada do Exército.
O diretor mostra no filme que Elis era muito “careta” e só usou drogas nos últimos meses de vida, quando já estava em processo de depressão. Segundo Prata, o mais difícil foi fazer o final e a cena da morte da cantora.
“Tentei ser delicado numa situação violenta. O João Marcelo [Bôscoli, filho dela] estava presente nessa hora, mas resolvi tirar isso do filme, porque seria demais”, avaliou. O diretor nega que “Elis” vá virar minissérie da Globo depois disso, como já ocorreu com outras biografias.
Ele diz que se inspirou em “Elis – A Musical”, de Dennis Carvalho, mas que os formatos, as ferramentas, o tempo e o arco dramático dos dois produtos são muito diferentes.
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