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"Espero que tenhamos filmes mais combativos", diz diretor de "Aquarius"

29.ago.2016 - O cineasta Kleber Mendonça Filho beija Sonia Braga durante coletiva do filme "Aquarius" em São Paulo - Leo Franco/AgNews
29.ago.2016 - O cineasta Kleber Mendonça Filho beija Sonia Braga durante coletiva do filme "Aquarius" em São Paulo Imagem: Leo Franco/AgNews

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

29/08/2016 15h58

"Aquarius" estreia na próxima quinta-feira (1º) com uma controversa classificação indicativa para maiores de 18 anos.

A decisão do Ministério da Justiça surpreendeu parte da comunidade cinematográfica, já que produções como "Boi Neon" (2015), de Gabriel Mascaro, e "Tatuagem" (2013), de Hilton Lacerda, ambos com teor sexual mais forte do que o de "Aquarius", estrearam nos cinemas com uma classificação indicativa de 16 anos.

"Eu sei o filme que eu fiz, não tem uma cena de violência. Mas tem três cenas sexuais, costuradas dentro da narrativa, e são fortes dentro dessa narrativa, mas não acho que elas merecem estar na mesma prateleira que 'Ninfomaníaca' (2014), 'Love' (2015) e 'Calígula' (1979)", disse o diretor Kleber Mendonça Filho em encontro com jornalistas em São Paulo, nesta segunda-feira (29).

Questionado se ele retiraria as cenas de sexo para conseguir uma indicação mais branda, Mendonça Filho se recusou: "Sem essas cenas, não seria o filme".

Na impossibilidade de cortá-las, teve uma ideia irônica. "Pensei em fazer uma versão para 14 anos. Toda hora que aparecer um pênis, colocar a imagem de um palhacinho". Na França, o filme ganhará classificação para maiores de 12 anos.

Filmes combativos

Filme brasileiro mais polêmico do ano, "Aquarius" aborda em sua trama temas como especulação imobiliária e gentrificação. Kleber contou que quer ver o filme ser mais debatido após sua estreia e que deseja, daqui para frente, um cinema ainda mais de resistência.

"Hoje é um dia histórico, e eu realmente não sei como fica. Espero que tenhamos filmes mais combativos", pediu ele, fazendo referência ao julgamento da presidente Dilma Rousseff, que acontecia simultaneamente no Senado.

A expectativa, no entanto, não lhe é muito animadora. "É muito mais fácil, para mim, fazer um filme sobre a realidade. E a tendência é piorar, se colocarem obstáculos para realização de filmes", disse ele sobre o futuro incerto das políticas públicas para o audiovisual.

Embora o filme conte a história da personagem Clara, vivida por Sônia Braga, há uma energia política que persegue toda sua briga com a construtora que quer comprar seu apartamento na praia da Boa Viagem, no Recife (PE). "É uma oportunidade de deixar claro uma posição cristalina", afirmou o diretor.

Sônia resumiu sua personagem: "Estamos vivendo um momento estranho. A Clara representa essa mulher brigando pelo direito que tem. E tentando provar que tem esse direito e que ela está certa."