"Barata Ribeiro, 716" vence o Festival de Gramado em cerimônia politizada
O filme "Barata Ribeiro, 716" levou o troféu Kikito, principal prêmio do Festival de Gramado, na noite deste sábado (3). Dirigido por Domingos de Oliveira e protagonizado por Caio Blat, o longa ficou ainda com mais três prêmios além de melhor filme: diretor, atriz coadjuvante (Glauce Guima) e trilha musical.
A premiação encerra a 44ª edição do principal festival de cinema do Brasil. Seis longas-metragens brasileiros disputavam o troféu principal: "Barata Ribeiro, 716", "El Mate", "Elis", "O Roubo da Taça", "O Silêncio do Céu", e "Tamo Junto".
Em "Barata Ribeiro, 716" - o grande vencedor da noite - o engenheiro e aspirante a escritor Felipe (Caio Blat) leva uma vida regada aos prazeres do álcool, em festas alucinantes realizadas num apartamento dado por seu pai, na famosa rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Lá, ele e seus amigos desfrutam de tudo que a liberdade pode oferecer, mesmo em meio a um momento político complicado, os anos 60, que terminariam com o golpe militar de 64.
Ao levar o prêmio de melhor direção, Domingos de Oliveira disse algumas palavras e passou seu discurso impresso ao ator Caio Blat, que interpreta seu alter ego no filme passado em um Rio de Janeiro boêmio. O aclamado cineasta, que sofre de Mal de Parkison, completa 80 anos no próximo dia 28. Ao fim do discurso, o diretor foi aplaudido de pé pelos presentes no Palácio dos Festivais.
Outros destaques
"Elis", cinebiografia sobre a vida da cantora Elis Regina, levou o prêmio do júri popular no Festival de Gramado. Favorita, Andréia Horta, que interpretou a artista, ficou com o Kikito de melhor atriz. O filme chega aos cinemas em 24 de novembro.
"O Roubo da Taça" foi outro destaque da noite. Estrelado por Taís Araújo, o filme de Caíto Ortiz levou quatro estatuetas: melhor fotografia, melhor direção de arte, melhor roteiro e melhor ator para Paulo Tiefenthaler, considerado a zebra da noite, já que as apostas eram em Caio Blat.
"É uma alegria, sou amigo do Caio, ele é uma referência para mim, pela seriedade com que encara a profissão", declarou o ator ao UOL momentos depois do fim da premiação.
As estatuetas para "O Roubo da Taça" surpreenderam pelo histórico do festival de não premiar comédias. "Ainda existe preconceito com a comédia, precisa ter timing, não é só ser uma aventura ou um filme de gags. A situação toda é patética e, dentro disso, fizemos um filme bom. Foi um presente, um reconhecimento", explicou Tiefenthaler, que está no ar na novela "Haja Coração", onde interpreta o marido da personagem de Marisa Orth.
"O Silêncio do Céu" levou o prêmio especial do júri. Protagonizado por Carolina Dieckmann e Leonardo Sbaraglia, o suspense psicológico é todo falado em espanhol com apenas uma curta cena em português. O filme foi exibido pela primeira vez no Festival de Gramado e estreia nos cinemas brasileiros no dia 22 de setembro.
Protestos políticos
A festa de encerramento do Festival de Gramado começou com uma hora de atraso, às 22h deste sábado (3). Assim como na cerimônia de abertura, manifestações políticas marcaram o tapete vermelho e também os discursos durante o encerramento. Alguns atores carregavam cartazes com declarações contra o presidente Michel Temer antes mesmo de entrar no Palácio dos Festivais.
Andréia Horta, que levou o Kikito de melhor atriz por sua atuação na cinebiografia "Elis", encerrou o seu discurso lembrando que "é tempo de luta, vamos juntos".
Já Paulo Tiefenthaler, eleito o melhor ator de longa-metragem brasileiro por "O Roubo da Taça" também deu o tom político ao seu discurso. "Fora, Temer. Vamos tirar esse cupim da nossa casa", declarou o ator.
A grande responsável pela maior parte das manifestações políticas, porém, foi a equipe do curta-metragem "Rosinha", que ficou com quatro prêmios. Ao subir no palco para receber o último deles, de melhor curta, o diretor Gui Campos e sua equipe levaram faixas com dizeres conta o governo Temer e convocaram os presentes para se juntarem a eles no protesto.
"Esse ato não representa nenhum partido político. Nos posicionamos contra o golpe e a favor da democracia", declarou o cineasta, acompanhado de dezenas de pessoas. Boa parte do público aplaudiu o ato, mas algumas vaias também foram ouvidas dentro do Palácio dos Festivais.
Homenagens
Elke Maravilha foi lembrada na cerimônia de premiação deste sábado (3) com um prêmio especial do júri de curtas. A atriz, que morreu há menos de um mês aos 71 anos, foi premiada por seu papel no curta "Super Oldboy". A diretora do filme recebeu o troféu e dedicou à família de Elke.
Maria Alice Vergueiro também foi premiada na mesma categoria por seu papel em "Rosinha". A atriz, que está rodando o país com uma peça, não estava presente para receber o prêmio de cinema. Um representante da equipe recebeu o troféu e aproveitou para protagonizar outro momento de protesto. Com um "fora, Temer", ele disse que Maria Alice concordaria com o posicionamento e agradeceu o apoio dos ex-ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira e dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. A declaração foi recebida entre aplausos e vaias.
Outros atores foram homenageados com prêmios durante os nove dias de festival. Estrela de "Aquarius", filme que abriu Gramado no dia 26 de agosto, a atriz Sonia Braga foi homenageada com o troféu Oscarito, por sua trajetória no cinema. Já Tony Ramos recebeu o troféu Cidade de Gramado, um tributo do município a profissionais do cinema.
Outros nomes laureados foram o cineasta José Mojica Marins (o Zé do Caixão) e a atriz argentina Cecilia Roth (do filme "Tudo Sobre Minha Mãe", de Pedro Almodóvar). Cecilia ficou lisonjeada ao receber o Kikito de Cristal na noite de sexta-feira (2). "Uma homenagem como esta significa um longo caminho percorrido e, além disso, um caminho que teve um sentido", declarou.
A atriz argentina é também a primeira mulher a ganhar um Kikito de Cristal. "Agora, vocês nos devem os próximos prêmios", cobrou da organização do evento sobre representatividade feminina.
Veja os premiados nas principais categorias:
Melhor Filme: "Barata Ribeiro, 716", de Domingos Oliveira
Melhor Direção: Domingos Oliveira ("Barata Ribeiro, 716")
Melhor Atriz: Andréia Horta ("Elis")
Melhor Ator: Paulo Tiefenthaler ("O Roubo da Taça")
Melhor Atriz Coadjuvante: Glauce Guima ("Barata Ribeiro, 716")
Melhor Ator Coadjuvante: Bruno Kott ("El Mate")
Melhor Roteiro: Lucas Silvestre e Caíto Ortiz ("O Roubo da Taça")
Melhor Fotografia: Ralph Strelow ("O Roubo da Taça")
Melhor Filme - Júri Popular: "Elis", de Hugo Prata
Melhor Filme - Júri da Crítica: "O Silêncio do Céu", de Marco Dutra
Prêmio Especial do Júri: "O Silêncio do Céu", pelo domínio da construção narrativa e da linguagem cinematográfica
Prêmio Especial do Júri: Elke Maravilha ("Super Oldboy") e Maria Alice Vergueiro ("Rosinha"), pela contribuição artística de ambas
Prêmio Aquisição Canal Brasil: "Rosinha", de Gui Campos
*Com colaboração de Luna D'Alama, de Gramado
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