Aos heróis do cinema cearense falta mais sustança narrativa
Halder Gomes e Edmilson Filho são dois heróis do cinema cearense. Em 2013, fizeram de "Cine Holliúdy", uma comédia despretensiosa com boas sacadas e legendas traduzindo o cearensês, um case de sucesso do cinema nacional. Levaram milhares de cearenses, incluindo este, encantados pela novidade de verem suas marmotas na tela grande, aos cinemas. "Afundaram o Titanic", como virou moda dizer depois que o longa deixou comendo poeira o blockbuster com Leonardo DiCaprio que reinava há anos no topo as bilheterias do estado.
Não satisfeitos, os dois ex-lutadores profissionais de taekwondo repetem o feito agora com a comédia "Shaolin do Sertão". Em uma semana, a nova empreitada da dupla, que estreou antes no Ceará, levou 42 mil aos cinemas --quase o dobro do anterior-- no primeiro fim de semana, garantindo espaço entre os dez filmes mais vistos do país antes mesmo da estreia nacional.
Com R$ 4 milhões de orçamento (quatro vezes o de "Cine Holliúdy") e coprodução da Globo Filmes, a história do padeiro Aluízio Li, que acredita ser um monge Shaolin na Quixadá de 1982, mostra apuro visual. Seja nas fantasias de Li, sempre em um filtro que lembra a má qualidade das fitas cassetes da época, ou nas bem executadas sequências de luta, não se vê mais ali as limitações de produção, com sequências quase mambembe, do antecessor.
A receita, no entanto, é a mesma de "Cine". Uma boa dose de nostalgia dos anos 1970 e 1980 (no primeiro, o fechamento dos cinemas de rua; neste, os filmes de luta), um anti-herói atrapalhado mas com muita marra que vai passar por todo tipo de desventura até ganhar a admiração da cidade e conquistar a mocinha de pele alva.
Embora o diretor tenha dito que o filme partiu de uma ideia totalmente original, para quem foi criança os anos 1980 não há como não lembrar de Didi e sua trupe em alguns de seus melhores momentos –imagem que a Pedra da Galinha Choca, também cenário de "O Cangaceiro Trapalhão" (1983), e a presença de Dedé Santana no elenco só reforçam.
Seria essa, então, a galinha dos ovos de ouro dos autores: prender pela nostalgia galalaus de mais de 30 anos saudosos do quinteto? "Quando a criança vai, ela leva o adulto junto", disse Edmilson Filho durante a entrevista de divulgação do filme em São Paulo, dando pista sobre o público preferencial da comédia.
Resta saber se a geração que já nasceu ultraconectada vê a mesma graça na inocência de um Aluízio-Didi. Até aqui, a fórmula tem funcionado. Mas espera-se mais do elenco de mestres da fuleiragem cearense do que sequências de piadas mais fracas que caldo de bila envolvendo golpes de dedada e peidos na cara do rival. Quem sabe na já anunciada sequência "Cine Holliúdy 2"? Eles têm a faca e o queijo coalho na mão.
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