"A Garota no Trem" deve agradar fãs do livro, mas pode confundir iniciantes

Muita coisa pode mudar e detalhes podem se perder no já conhecido caminho da adaptação de um livro para um filme. Mas, para quem leu "A Garota no Trem", um alento: vá de coração aberto ao cinema assistir ao drama inspirado no best-seller de Paula Hawkins.

Há, sim, algumas alterações na história, mas nada que prejudique o rumo do suspense, narrado do ponto de vista de três mulheres --Rachel, Megan e Anna-- e em diferentes tempos cronológicos, entre flashbacks e o presente.

Rachel Watson (Emily Blunt)

Já sabíamos que, todas as manhãs, Rachel pega o trem de Ashbury para o centro de Londres, com uma breve parada em Witney. No filme, o cenário muda para outro continente: é Nova York e seu trem vai em direção à Grand Central Station, no coração da cidade. Uma curiosidade: mesmo com a mudança de país na história adaptada, Emily Blunt manteve seu sotaque britânico original para o papel de Rachel.

Desde que seu casamento com Tom (Justin Theroux) entrou em crise, Rachel virou alcoólatra, um problema presente tanto no livro quanto no filme. As bebidas, porém, são diferentes: ela foi da gim tônica em lata na literatura para a vodca disfarçada em uma garrafinha plástica de água no cinema.

Rachel também aprecia martínis, especialmente nos momentos em que espera a hora passar em Nova York, na tentativa de enganar a amiga Cathy (Laura Prepon, a Alex de "Orange Is The New Black"). As duas dividem um apartamento desde a separação de Rachel e Tom, mas não sabe que a amiga perdeu o trabalho de relações públicas há alguns meses --e continua fingindo estar empregada.

Megan Hipwell (Haley Bennett)

A personagem é um fetiche de Rachel: todos os dias ela vê, da janela do trem, a relação de Megan com o marido Scott (Luke Evans) e, dali, julga que eles formam o casal perfeito --tudo o que ela não conseguiu manter com Tom. O que ela não sabe é que Megan é infeliz no casamento.

Até que um dia... Megan desaparece, e Rachel está no centro das investigações. O filme explora bem a história dela, incluindo a relação com o psiquiatra Kamal Abdic (Edgar Ramirez).

Anna (Rebecca Ferguson)

Vizinha de Megan, ela é a corretora de imóveis que conquistou o marido de Rachel enquanto os dois ainda estavam juntos. Em cerca de dois anos, eles se casaram e construíram uma nova família. Tom e Anna agora são pais da pequena Evie, o bebê que Rachel tanto desejou e não conseguiu ter ao lado do ex-marido.

No filme, a relação de Anna com Megan --que trabalhou como babá de Evie-- é resumida em apenas uma cena e não fica claro o motivo que a levou ao trabalho.

Do livro para o cinema

Apesar de o livro de 375 páginas mesclar uma espécie de diário das três mulheres, no filme a falta de linearidade pode causar confusão em uma trama que envolve tantos personagens diferentes. A roteirista Erin Cressida Wilson ainda acrescentou dois itens que não estão na história original: uma nova personagem, Martha (Lisa Kudrow, a Phoebe de "Friends"), e uma cena impactante.

Os pequenos detalhes fazem a diferença no desfecho da história. No filme, as viagens no trem de Rachel são bem mais curtas, o grande segredo do passado de Megan é revelado sem muitos detalhes e Anna nem parece odiar tanto assim as constantes ligações de Rachel para o seu atual marido.

Aos poucos, tanto os leitores do best-seller quanto os iniciantes no cinema percebem que a trama é sobre cobranças e temores enfrentados pelas mulheres. A cena em que Rachel perde o controle no banheiro da Grand Central Station, por exemplo, resume os inúmeros conflitos internos pelos quais passa a personagem principal, depois de diversos lapsos de memória.

"A Garota no Trem" estreou como líder nos Estados Unidos e arrecadou US$ 24,7 milhões em bilheterias. Resta saber se as bilheterias vão repetir o sucesso da publicação de Paula Hawkins, que já vendeu mais de 10 milhões de cópias em 40 países.