"Guardiões", Darth Vader, Stallone: uma conversa sobre ego com Kurt Russell
Se tem um recurso que não se economiza em "Guardiões da Galáxia Vol. 2" é o uso de efeitos especiais, já que grande parte do filme se passa no espaço com uma diversidade de seres extraterrestres. Mas a primeira cena da comédia da Marvel é uma tremenda massagem no ego para o ator Kurt Russell, especialmente porque ele interpreta um personagem chamado... Ego.
Logo de início, Russell, 66, aparece totalmente rejuvenescido na tela, em uma cena de flashback que ocorre no fim dos anos 1970. E a perfeição de sua caracterização é assustadora, porque não se percebe qualquer vestígio de computação gráfica --bem diferente da aparição final de Carrie Fisher como Princesa Leia em "Rogue One - Uma História Star Wars".
"O público não percebe a diferença porque quase não há efeitos especiais", explica Russell, em conversa com o UOL no quarto de um hotel em Los Angeles. "Foi quase tudo maquiagem. A gente achou que ia ter muita computação gráfica, mas, no dia em que começamos as gravações, meu maquiador Dennis Liddiard, com quem já fiz 28 filmes, disse para a equipe que conhecia meu rosto e que podia me rejuvenescer. Quando ele terminou, ficamos chocados. A maior parte é maquiagem, claro que não tem apenas cosméticos ali, mas não gosto de revelar os truques."
Darth Vader, é você?
Outra cena muito falada sobre "Guardiões 2", desde o lançamento do trailer, é quando Peter Quill/Star-Lord (Chris Pratt) se encontra com Ego e questiona quem ele é, que responde: "Eu sou seu pai". Alguma semelhança com Darth Vader e Luke Skywalker em "Star Wars"? Para Russell, não.
"É uma situação totalmente diferente, porque o Peter, como toda criança que foi abandonada pelo pai, cria uma imagem idealizada dele para se proteger. Luke Skywalker sabe exatamente o que está acontecendo. Não sabe que Vader é seu pai, mas sabe quem ele é", teoriza. "Meu personagem quer encontrar o filho por uma razão específica. E, quando eles se encontram, há uma euforia, mas eles têm de lidar com a realidade, com o que cada um deles realmente é. Neste aspecto, muitos pais que perderam filhos ou filhos que não conheceram seus pais irão se identificar."
Simbolismos
O nome de Ego também traz outros simbolismos, segundo o ator, já que o personagem é um ser celestial que quer se igualar a Deus. Russell defende que, no filme, há a ideia de que Deus é uma criação do ego, neste caso como conceito freudiano na psicanálise, que representa a personalidade de cada um. "Tem a questão de como construímos nossa personalidade e o que somos e baseados em quê. Ego escolheu esse nome para si porque ele representa a personalidade em si. E ele é um planeta próprio", explica.
Russell vai além e diz que o interessante do universo Marvel é permitir nos questionar sobre esses temas, já que lida com super-poderes e criaturas sobre-humanas. "E, neste contexto, sempre acabamos nos perguntando sobre o que é Deus e de onde ele vem. Nem a teoria do Big Bang explica. Por que, afinal, de onde vem o Big Bang? Para mim, pessoalmente, não faz muito sentido, mas cientificamente faz. O filme '2001 - Uma Odisseia no Espaço' termina com a mesma questão com que começa. Fecha um ciclo, que, aliás, é o conceito matemático do infinito. Talvez nosso cérebro não seja desenvolvido para responder a esta questão."
O ego de Stallone
Além de Russell, outro veterano dá o ar da graça em "Guardiões 2": Sylvester Stallone. Não é um grande papel: sua participação se resume em uma ponta como o personagem Stakar Ogordo, mas que deve ganhar um papel maior no capítulo final da trilogia.
Russell e Stallone não contracenam no filme, mas eles têm história juntos. Em 1989 eles fizeram "Tango & Cash", um filme de ação que contava a história de dois policiais rivais que acabariam sendo culpados de um crime que não cometeram e, portanto, teriam de se unir para pegar os verdadeiros culpados. Em uma das cenas, os dois atores aparecem nus em um banho na prisão.
"A piada interna desta cena é que os dois personagens entram pelados no chuveiro e a câmera vai se afastando. Quando cheguei para gravar, Sly [apelido de Stallone] não estava lá, só seu dublê, Mark. Fui até o camarim do Sly e falei: 'Você viu a bunda do seu dublê? Tem certeza de que você quer que aquela bunda seja associada a você?'. E aí eu disse: 'Cara, controla esse ego.'. E fizemos as cenas nós mesmos", conta Russell, mais uma vez trazendo a questão do ego em seu discurso.
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