Gênio da animação, chefão da Pixar afastado por assédio salvou a Disney
O realismo e toda a tecnologia envolvidos em “Toy Story”, lançado em 1995, mudaram o mundo da animação. Por trás do xerife Woody, do astronauta Buzz Lightyear e de toda uma revolução nas telonas, estava o nome de John Lasseter, que não demorou a ser chamado de gênio em sua área de atuação. Mas seu legado de bilhões de dólares e estatuetas sofreu uma mancha nesta semana, quando ele afirmou que vai tirar "seis meses sabáticos" após ter comportamentos inadequados relatados por seus colegas de trabalho.
As acusações de assédio surgiram em matéria do site “Hollywood Reporter”. Anonimamente, fontes próximas ao diretor relataram que ele é conhecido por "agarrar, beijar e fazer comentários sobre os atributos físicos das pessoas", além de exagerar na bebida em festas e eventos e ter comportamentos inadequados nestes momentos.
As saídas da atriz Rashida Jones -- conhecida por "Parks and Recreation" -- e seu parceiro criativo Will McCormack do projeto "Toy Story 4", no qual ainda são creditados como roteiristas, foram mais indícios de problemas. Em um memorando à sua equipe, ele admitiu excessos e se desculpou: “Eu especialmente quero pedir desculpas a qualquer um que já recebeu um abraço não desejado ou qualquer gesto que ultrapasse a o limite de qualquer forma.”
Lasseter, hoje com 60 anos, nasceu em Hollywood, California, e herdou a veia artística da mãe, professora de artes. Desde cedo, gostava de ver desenhos na TV e, tanto na igreja quanto na escola, viajava pensando em personagens e histórias e os desenhava. Ele contou ao The Guardian que, enquanto os outros se interessavam em garotas, sua paixão pelos cartoons crescia. Adolescente, ele entrou em contato com um diretor de animação da Disney e conseguiu entrar em um curso de animação, trabalhando também como assistente de um professor, um veterano da Disney responsável por boa parte da produção do Pato Donald.
O norte-americano deu outro passo importante ao conhecer Ed Catmull e Alvy Ray Smith, da divisão de computação gráfica da companhia de George Lucas, no mesmo momento em que não teve seu contrato com a Disney renovado. Nesta época, a empresa desenvolveu um sistema de software pioneiro que poderia ser usado para animações e tentou vendê-lo junto a outras inovações de hardware. Steve Jobs, que viria a ser conhecido na Apple, comprou o que se tornaria mais tarde a Pixar como conhecemos, por US$ 5 milhões.
Desenvolvendo suas animações, John Lasseter ganhou um Oscar por “Tin Toy”, um curta feito por computador, em 1988, e voltou a ser assediado pela Disney. Mas sua intenção era outra. “Posso ir para a Disney e virar diretor, ou posso ficar na Pixar e fazer história”. Ele fez história -- mas depois voltou para salvar a "rival".
O sucesso revolucionário “Toy Story” teve distribuição da Disney, mas fui produzido nos estúdios da Pixar. Quase tudo deu errado. “Nós tivemos uma exibição mostrando três quartos do filme, mas estava horrível. Woody, o caubói, estava terrível. Todo mundo estava com medo dele. Nos deram duas semanas para refazer e decidimos esquecer tudo o que nos disseram e fazer do nosso jeito. Voltamos em duas semanas, e eles ficaram chocados”, contou Lasseter, ao The Guardian. O lançamento do filme foi em novembro de 1995 e liderou as bilheterias.
Em 2004, 45% dos ganhos da Disney vinha apenas da distribuição dos filmes da Pixar. Lasseter comandou ainda "Toy Story 2", "Vida de Inseto", "Carros" e "Carros 2". Após a Disney comprar a empresa de animação, Lesseter virou o diretor de criação tanto da Pixar quanto da Walt Disney Animation Studios.
E não é exagero falar que ele salvou a companhia. A Lasseter é atribuído o resgate da Walt Disney Animation, algo que parece distante agora, com "Frozen" (2013) entre os 10 filmes de maior bilheteria da história. Mas a Disney teve grandes fracassos como "Atlantis - O Reino Perdido" (2001), "Irmão Urso" (2003) e "O Galinho Chicken Little" (2005).
Assolada pela Pixar, a divisão de animação da Disney esteve a ponto de fechar, mas o estúdio recobrou a sua energia sob a direção de Lasseter e começou a produzir clássicos como "Enrolados" e "Detona Ralph" para voltar aos seus dias de glória. "Cresci amando os filmes da Disney, eles tinham muito significado para mim, havia magia neles, beleza", diz o diretor de 60 anos em um encontro com a imprensa internacional durante a conferência D23, organizado pela empresa em julho deste ano.
"Quando voltei à Disney, eu queria trazer de volta a forma de contar histórias do passado, mas entregando a uma nova audiência. Eu tinha que fazer filmes que valiam o nome de Walter (Disney) e da companhia. E deu certo."
Além do “coração” de seus personagens, Lasseter ficou conhecido pelo lado cerebral - o que pode explicar a atração também do público adulto aos seus filmes. Enquanto a Disney apostava em princesas e animais, ele animou objetos inanimados - e, quando fez princesas, não criou príncipes que surgiam apenas para salvá-las. O diretor fez bonecos falarem e deu vida a carros, por exemplo. “Nunca perdi aquela magia da infância”, afirmou ele. “Mas eu costumo dizer que sou a ‘polícia da lógica’. Por que tudo que acontece nos filmes precisa seguir a lógica para aquele mundo que criamos. Numa animação você pode fazer o que quer, mas isso não quer dizer que você deve fazer tudo o que quer.”
A contribuição de Lasseter não é pequena. Desde que estreou "Toy Story" em 1995, a Pixar ganhou 13 Oscars e US$11 bilhões nas bilheterias com 18 filmes. E ao entrar no Walt Disney Animation Studios, o tirou das ruínas, lucrou US$ 5 bilhões em oito filmes e venceu quatro prêmios da Academia.
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