Com indicações a mulheres e negros, Academia manda recado para o mundo
Passaram apenas dois anos da polêmica do "Oscars So White" (Oscars muito brancos), quando a Academia de Hollywood recebeu fortes críticas por não ter incluído nenhum negro nas categorias de atuação por dois anos seguidos, mas a lista de indicados anunciada na manhã desta terça-feira (23) mostra que Hollywood está fazendo a lição de casa.
Não só os profissionais não brancos ganharam mais espaço este ano, como também os votantes mostraram que estão atentos ao momento que a indústria vive, em que as mulheres tomaram a frente para denunciar abusos e assédios, mas também para apontar como tem sido difícil para elas abrir espaço nessa indústria tão dominada por homens.
O maior recado veio da seção dos diretores, uma das mais imprevisíveis da Academia, que incluiu entre seus preferidos Greta Gerwig, por "Lady Bird: A Hora de Voar", e Jordan Peele, por "Corra!". Eles são respectivamente a quinta mulher e o quinto homem negro a serem indicados na categoria em 90 anos de Oscar.
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A mensagem de inclusão continua também nas categorias de atuação, com Octavia Spencer e Mary J. Bigle indicadas a melhor atriz coadjuvante e Daniel Kaluuya e Denzel Washington no páreo para melhor ator --um número que já representa 20% dos atores concorrentes.
A abertura para o universo LGBT também continua depois dos prêmios para "Moonlight: Sob a Luz do Luar" em 2017, desta vez com "Me Chame pelo seu Nome", um romance sobre o primeiro amor de um adolescente por um homem um pouco mais velho. E o curta documentário "Strong Island" traz um homem trans, Yance Ford, entre seus diretores.
Outras indicações que valem ser notadas são as conquistas históricas da roteirista Dee Rees e e da diretora de fotografia Rachel Morrison, ambas de "Mudbound - Lágrimas sobre o Mississipi", a primeira mulher negra e a primeira mulher a serem lembradas em suas respectivas categorias em toda a história do Oscar.
Depois dos esforços que a Academia fez para convidar novos membros com um perfil mais variado, e em meio a movimentos como o Time's Up (um fundo de defesa legal para mulheres vítimas de assédio e abuso no trabalho), já era de se esperar que o Oscar 2018 não seria apenas uma questão de escolher os melhores filmes do ano e contar o número de indicações, para apontar favoritos (nesse quesito, "A Forma da Água", de Guillermo del Toro, fez muito bem a lição de casa). Nesse clima, é difícil não enxergar uma intenção política nas escolhas, e não há problema nenhum nisso.
Em primeiro lugar, porque não se trata de desvirtuar uma premiação do que melhor se produziu no mundo do cinema no ano anterior --todo mundo que acompanha o Oscar sabe que são escolhas feitas pelos profissionais de Hollywood, e refletem não só os gostos dessas pessoas, mas também os esforços dos estúdios para fazê-las ver seus filmes e gostar deles. Ou seja, não é só a qualidade dos filmes que está em jogo.
Em segundo lugar, porque é uma das transmissões de TV mais vistas em todo o mundo e, portanto, uma grande vitrine para qualquer causa que suas estrelas decidam abraçar. E nada mais justo que elas, que no fim são quem escolhem os indicados, tenham decidido abraçar a tentativa de colocar um ponto final no racismo e no machismo que tanto marcaram a história de Hollywood.
É claro que ter mais mulheres e negros indicados não resolve o problema mais profundo, que é o fato de esses grupos ainda terem muita dificuldade para trabalhar em Hollywood. Mas incluí-los manda uma mensagem poderosa de que eles são sim bem-vindos nesse mundo, a despeito dos Harvey Weisntein e Donald Trump que possam existir por aí.
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