Topo

Breno Silveira faz filme comovente a partir da relação entre Gonzagão e Gonzaguinha

Cena de "Gonzaga - De Pai para Filho", de Breno Silveira - Divulgação
Cena de "Gonzaga - De Pai para Filho", de Breno Silveira Imagem: Divulgação

Luiz Vita

Do Cineweb*

25/10/2012 11h51Atualizada em 25/10/2012 17h05

O diretor brasiliense Breno Silveira tem um afinado olhar musical e humano. Foi assim em "Dois Filhos de Francisco", de 2005, em que recria a infância e a vida adulta da dupla sertaneja Zezé di Camargo & Luciano, prosseguindo em "À Beira do Caminho", deste ano, embalado nas canções de Roberto Carlos.

OS GONZAGÕES E O GONZAGUINHA

  • Divulgação

    Não foi tarefa fácil encontrar os intérpretes do Rei do Baião para o filme "Gonzaga - De Pai para Filho", mas o diretor Breno Silveira apostou em atores sem nenhuma experiência no cinema. Achar um Gonzaguinha foi mais fácil: na verdade, foi o ator Júlio Andrade quem "encontrou" o filme.

Nesta sexta-feira (27), ele lança "Gonzaga - De Pai pra Filho", comovente biografia de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e de seu filho, Gonzaguinha, um dos mais importante compositores da geração universitária da MPB, ao lado de Ivan Lins e de Aldir Blanc, morto precocemente em um acidente de carro em 1991, aos 45 anos. Luiz Gonzaga morreu em 1989, aos 77 anos.

O filme de Breno tem tudo para encantar o público: uma profunda história humana, calcada na difícil relação entre pai e filho, uma reconstituição de época muito bem cuidada, elenco afinadíssimo (até em termos musicais) e a música eterna de Gonzaga que, apesar de marcadamente regional, se espalhou como rojão de festa junina pelas capitais além do Nordeste e até pelo exterior.

O enredo acompanha a infância pobre de Gonzaga (interpretado por Land Vieira na adolescência, por Chambinho do Acordeon na fase adulta e por Adélio Lima na maturidade), filho de Januário (Cláudio Jaborandy), um respeitado sanfoneiro do sertão de Pernambuco e seu empenho em viver da música, apesar de todas as dificuldades.

Com o destino traçado pela pobreza, numa sociedade dominada pelos coronéis locais, não restou outra opção ao menino Lula a não ser fugir de casa, na cidadezinha de Exu, e ir para o Recife, onde acabou se alistando no Exército.

Graças a isso pôde enviar algum dinheiro à família e, posteriormente, partir para o Rio de Janeiro, então a capital do país, já pensando em sobreviver da música. Ainda não como compositor, mas com apresentações nas ruas e bares da cidade em troca de trocados para um prato de comida.

Num dancing da cidade conheceu Odaléia (Nanda Costa), com quem se casou e teve o filho Luiz Gonzaga do Nascimento Jr., o Gonzaguinha (na verdade, nunca foi esclarecido se o garoto era de fato filho de Gonzaga). Mas a morte prematura da mulher, por tuberculose, acabou criando problemas no relacionamento entre pai e filho.

Gonzaga passou a se ausentar cada vez mais de casa para fazer shows pelo Brasil, deixando o menino sob os cuidados de um casal de amigos, moradores do Morro de São Carlos, que na prática acabaram criando o garoto. Dina (Silvia Buarque), que não tinha filhos, se apegou à criança como se fosse realmente sua (já famoso, Gonzaguinha a homenagearia na canção "Com a Perna no Mundo").

E é a difícil relação entre os dois, valorizada pela atuação de Júlio Andrade como o jovem músico carioca, que encharca o filme de um drama humano. Rancor e amor duelam num mesmo corpo, o que só é vivido em profundidade em dramas familiares carregados de culpa.

Abandono, ressentimento e perdão são os sentimentos que irão aflorar até o final da projeção. No final, Gongazão e Gonzaguinha --almas tão diversas, mas que se fundem na música-- entenderam que estavam na mesma estrada. Pena que o caminho do filho foi tão curto.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

TRAILER DO FILME "GONZAGA - DE PAI PARA FILHO"