"Depois de Lúcia" aborda caso de bullying entre adolescentes
Premiado em Cannes em 2012, na mostra paralela Um Certo Olhar, o drama mexicano "Depois de Lúcia", de Michel Franco, parece uma mistura de "Malhação" e "Dogville", com a tendência à superficialidade do primeiro e sem uma fagulha de brilhantismo do segundo.
Bullying tem sido um assunto complexo demais para o cinema ficcional até agora. Apenas o documentário "Bullying", lançado nos cinemas brasileiros no ano passado, conseguiu evitar a manipulação e o maniqueísmo deste filme mexicano e do premiado dinamarquês "Em um mundo melhor", de Susanne Bier.
Alejandra (Tessa Ia) e seu pai, o chef Roberto Rojas (Hernán Mendoza), acabam de se mudar do interior para a Cidade do México depois da morte da mãe da garota num acidente. Mesmo enlutados, precisam retomar suas vidas. A segurança do cotidiano começa a se restabelecer por meio da rotina. A menina retoma os estudos numa nova escola --de classe média alta-- onde faz novos amigos.
Franco filma o cotidiano da dupla com um distanciamento que poderia se chamar de documental, mas aí começa um dos vários problemas do filme: a distância excessiva que resulta numa frieza no tratamento da personagem e na condução da trama.
Por conta de um vídeo que é divulgado na internet, no qual é vista fazendo sexo com um garoto no banheiro, Alejandra se torna vítima de bullying por parte daqueles que pareciam ser seus amigos na escola. Fora os ciúmes das outras meninas, não há muito que justifique o comportamento e o prazer sádico dos adolescentes contra a protagonista. Crueldade é a tônica do roteiro, de autoria do diretor.
Ainda que várias situações sejam até plausíveis, seu acúmulo mostra-se excessivo dentro do universo do filme, mesmo que o diretor recorra a alguns psicologismos para explicar a apatia da menina.
Assim, "Depois de Lúcia" encaminha sua narrativa no sentido de, culpar a vítima que, ao não se defender, oferece um estímulo às crueldades contra ela.
*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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