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Premiado em Cannes, Mikkelsen vive drama com pedofilia em "A Caça"

Cena do filme dinamarquês "A Caça", de Thomas Vinterberg, estrelado por Mads Mikkelsen - Divulgação / Califórnia Filmes
Cena do filme dinamarquês "A Caça", de Thomas Vinterberg, estrelado por Mads Mikkelsen Imagem: Divulgação / Califórnia Filmes

Neusa Barbosa

Do Cineweb*

21/03/2013 12h43Atualizada em 21/03/2013 15h47

Um dos fundadores do movimento de renovação do cinema Dogma 95, ao lado de Lars Von Trier, o diretor dinamarquês Thomas Vinterberg alcançou sucesso internacional com seu segundo longa, "Festa de Família" (Prêmio do Júri em Cannes 1998).

Deixando para trás a aura de menino-prodígio e o despojamento às vezes um tanto marqueteiro do Dogma, Vinterberg passou um período de incertezas, em que realizou filmes menores como "Dogma do Amor" (2003) e "Querida Wendy" (2004).

O cineasta pareceu reencontrar um rumo no bom drama familiar "Submarino" (2010) e volta ao seu melhor no recente "A Caça", que concorreu à Palma de Ouro em Cannes 2012, obtendo ali três prêmios, o principal deles o de melhor ator para o já veterano Mads Mikkelsen.

Como em "Festa de Família", Vinterberg sustenta muito bem uma situação em que uma atmosfera de mal-estar passa a contaminar sentimentos, valores, relações, levando a um abismo profundo em que a racionalidade cada vez encontra menos oxigênio para respirar.

O título "A Caça" é perfeito, já que o roteiro, de Vinterberg e Tobias Lindholm, desenvolve o cerco implacável ao professor Lucas (Mads Mikkelsen), que se torna suspeito de abuso sexual contra a garotinha Klara (Annika Wedderkopp), aluna da escola em que trabalha e também sua vizinha, filha de um velho casal de amigos.

A base da acusação é incerta, a partir de um comentário da menina. A investigação escolar, conduzida pela diretora e psicólogo, vai no sentido de induzir a menina, muito pequena, a afirmar coisas, sem que nenhum dos envolvidos consiga separar o que é fantasia infantil da realidade. Instala-se o inferno na vida de um pai de família conhecido há anos por todos na comunidade.

Algumas circunstâncias na vida de Lucas o tornam mais vulnerável à suspeita e a uma progressiva caça às bruxas. Ele está divorciado da mulher, lutando na Justiça pela guarda de um filho pré-adolescente. Essa aparente solidão e liberdade de sua condição somente reforçam a desconfiança.

VEJA TRAILER LEGENDADO DO FILME "A CAÇA"

Todos, menos um, dos amigos de Lucas mostram-se incapazes de ouvi-lo. E fica evidente que mesmo sociedades em tese modernas não encontraram meios de lidar com a pedofilia, que certamente não é nenhuma ilusão.

A interpretação precisa e contida do veterano ator Mikkelsen, visto como vilão em "007 - Cassino Royale" (2006) e no drama de época indicado ao Oscar "O Amante da Rainha" (2012), é um fator fundamental para a força do filme. Em nenhum momento, ele se permite um transbordamento a mais, apenas as explosões cabíveis para um homem que se vê cerceado e injustiçado.

É na sua via-crúcis de homem comum que ele se mostra capaz de provocar empatia. A opção clara dos roteiristas e do diretor foi enveredar pela exploração dos rumos que a histeria coletiva pode tomar.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb