Premiado em Cannes, Mikkelsen vive drama com pedofilia em "A Caça"
Um dos fundadores do movimento de renovação do cinema Dogma 95, ao lado de Lars Von Trier, o diretor dinamarquês Thomas Vinterberg alcançou sucesso internacional com seu segundo longa, "Festa de Família" (Prêmio do Júri em Cannes 1998).
Deixando para trás a aura de menino-prodígio e o despojamento às vezes um tanto marqueteiro do Dogma, Vinterberg passou um período de incertezas, em que realizou filmes menores como "Dogma do Amor" (2003) e "Querida Wendy" (2004).
O cineasta pareceu reencontrar um rumo no bom drama familiar "Submarino" (2010) e volta ao seu melhor no recente "A Caça", que concorreu à Palma de Ouro em Cannes 2012, obtendo ali três prêmios, o principal deles o de melhor ator para o já veterano Mads Mikkelsen.
Como em "Festa de Família", Vinterberg sustenta muito bem uma situação em que uma atmosfera de mal-estar passa a contaminar sentimentos, valores, relações, levando a um abismo profundo em que a racionalidade cada vez encontra menos oxigênio para respirar.
O título "A Caça" é perfeito, já que o roteiro, de Vinterberg e Tobias Lindholm, desenvolve o cerco implacável ao professor Lucas (Mads Mikkelsen), que se torna suspeito de abuso sexual contra a garotinha Klara (Annika Wedderkopp), aluna da escola em que trabalha e também sua vizinha, filha de um velho casal de amigos.
A base da acusação é incerta, a partir de um comentário da menina. A investigação escolar, conduzida pela diretora e psicólogo, vai no sentido de induzir a menina, muito pequena, a afirmar coisas, sem que nenhum dos envolvidos consiga separar o que é fantasia infantil da realidade. Instala-se o inferno na vida de um pai de família conhecido há anos por todos na comunidade.
Algumas circunstâncias na vida de Lucas o tornam mais vulnerável à suspeita e a uma progressiva caça às bruxas. Ele está divorciado da mulher, lutando na Justiça pela guarda de um filho pré-adolescente. Essa aparente solidão e liberdade de sua condição somente reforçam a desconfiança.
VEJA TRAILER LEGENDADO DO FILME "A CAÇA"
Todos, menos um, dos amigos de Lucas mostram-se incapazes de ouvi-lo. E fica evidente que mesmo sociedades em tese modernas não encontraram meios de lidar com a pedofilia, que certamente não é nenhuma ilusão.
A interpretação precisa e contida do veterano ator Mikkelsen, visto como vilão em "007 - Cassino Royale" (2006) e no drama de época indicado ao Oscar "O Amante da Rainha" (2012), é um fator fundamental para a força do filme. Em nenhum momento, ele se permite um transbordamento a mais, apenas as explosões cabíveis para um homem que se vê cerceado e injustiçado.
É na sua via-crúcis de homem comum que ele se mostra capaz de provocar empatia. A opção clara dos roteiristas e do diretor foi enveredar pela exploração dos rumos que a histeria coletiva pode tomar.
*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.