Wagner Moura rouba cena como coadjuvante em ficção científica "Elysium"
Há quem não aprecie filmes de ficção científica por serem fantasiosos demais. No entanto, por trás de toda a cenografia, figurino e efeitos visuais usados para criar ambientes bem diferentes do habitual, o gênero revela-se como um dos mais próximos da realidade. O longa estreia no circuito nacional nesta sexta-feira (20).
É o que ocorre em "Elysium", segundo longa do sul-africano Neill Blomkamp, que marca a estreia internacional do ator brasileiro Wagner Moura. O baiano surpreende positivamente em sua estreia em Hollywood, roubando a cena como coadjuvante, que facilmente poderia ter ficado em segundo plano.
Blomkamp tem se revelado um dos diretores que melhor conseguem manter e debater em suas fábulas futurísticas a realidade em que vivemos, mesmo se valendo das velhas fórmulas e clichês do gênero.
Em "Elysium" (2013), ele volta a fazer uma obra extremamente politizada, como em "Distrito 9" (2009). A injusta divisão entre as classes sociais serve de base para a história.
TRAILER LEGENDADO DO FILME "ELYSIUM"
Essa separação, porém, é mais visível neste segundo filme, que retrata uma Terra totalmente devastada, habitada pelas classes mais pobres e pela escória social, como no caso do órfão e ex-presidiário Max da Costa (Matt Damon), operário de uma grande corporação que fabrica os droides, robôs que atuam como policiais no planeta.
Enquanto isso, os ricos habitam Elysium, uma nave construída para que possam viver em paz, reproduzindo seu antigo modo de vida terráqueo. O ambiente espacial -- e artificial—assimila-se a bairros norte-americanos e o planeta Terra a uma grande favela, cenário que também estava presente no gueto dos alienígenas de "Distrito 9".
Entretanto, "Elysium" apresenta algumas diferenças em relação à outra obra de Blomkamp. Uma delas é o fato de o diretor, agora, ter em mãos um orçamento bem maior, US$ 115 milhões. A qualidade técnica de som e imagem - se destaca na exibição em IMAX - estão melhores, embora ressalte-se que o filme anterior adotava uma narrativa documental e jornalística que justificava a estética inferior.
Brasileiros em ênfase
Wagner Moura compara "Elysium" a "Tropa de Elite"
O orçamento também permitiu a escalação do astro Matt Damon, repetindo o papel de heroi de ação que viveu tão bem na trilogia "Bourne". Seu personagem, Max, sofre um acidente de trabalho e, para tentar se curar, aceita uma missão dada por um antigo colega, Spider (Wagner Moura), e acaba entrando em uma batalha para mudar o destino da humanidade.
Além da ministra da Defesa, Delacourt (Jodie Foster), Max também tem de enfrentar o louco mercenário Kruger, vivido por Sharlto Copley. Um papel bem diferente do protagonista do filme de estreia de Neill, que é seu amigo de infância.
Kruger também é uma "pedra no sapato" de Frey (Alice Braga), amiga e amor de infância de Max, que quer salvar a vida de sua filha e de Spider, um "coiote" revolucionário, interpretado por Wagner Moura.
Os dois brasileiros, aliás, têm grande destaque na superprodução.
A escolha dos intérpretes brasileiros e de atores de vários países não é à toa. Se em "Distrito 9", Blomkamp criava uma metáfora do apartheid na África do Sul com alienígenas, reproduzido de diversas maneiras em várias partes do mundo, o cineasta faz de "Elysium" um filme multinacional e parte para discussões mais globais, como a da imigração.
A Los Angeles de 2154, mostrada por ele, parece estar habitada apenas pelos imigrantes, principalmente latinos, que no futuro tentariam imigrar ilegalmente para a nave dos sonhos. A questão ambiental é outra temática abordada no longa, pois a Terra se transformou em um lixão a céu aberto, como se estivesse em um estágio anterior ao planeta inabitável da animação "Wall-E" (2008).
Em tempos de tanta discussão sobre o sistema de saúde pública brasileira, os questionamentos levantados pelo diretor sobre o acesso ao bem-estar são um dos principais pontos. Em "Elysium" não há doenças, pois máquinas ultra-avançadas escaneiam, regeneram e reconstituem os corpos humanos de poucos privilegiados, enquanto na Terra a "gente diferenciada" enfrenta hospitais lotados, mal equipados e com falta de médicos. Portanto, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
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