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"Amor Bandido" retrata perda da inocência e descoberta da paixão

Alysson Oliveira

Do Cineweb*

31/10/2013 16h52

O cineasta Jeff Nichols definiu "Amor Bandido" como uma história de Mark Twain dirigida por Sam Peckinpah. Ele não poderia ser mais preciso. No primeiro autor, inspiram-se as personagens de duas crianças solitárias que encontram na amizade uma recompensa pelas vidas um tanto vazias. Do segundo, a violência inerente do ser humano como a única saída.

O rio Mississippi (outro elemento twainiano) é o ponto de partida da jornada de Ellis (Tye Sheridan) e Neckbone (Jacob Lofland) que, durante as tardes, fogem de casa e vão para uma pequena ilha, onde, entre outras coisas, há um barco preso numa árvore. Uma imagem bizarra, que beira o gótico, um elemento com que o filme flerta de leve.

Em casa, a vida dos meninos não é de todo ruim. Ellis mora com os pais (Ray McKinnon e Sarah Paulson), cujo casamento está em crise, e que vivem da pesca. Neckbone, que é órfão, vive com o tio (Michael Shannon), um caçador de pérolas.

A vida dos meninos encontraria sua beleza apenas no banal, não fosse um ato extraordinário. Encontram em sua ilha um sujeito sujo e esfomeado, cujos únicos pertences são um revólver e sua "camisa da sorte". Ele é Mud (Matthew McConaughey), e Ellis logo descobre que a polícia procura por ele.

O desesperado Mud tem atrás de si uma complicada história de amor. Pretende reencontrar sua namorada, Juniper (Reese Witherspoon) - e é isso que causa mais comoção em Ellis, que está apaixonado por uma menina mais velha. O plano de Mud é retirar o barco da árvore e fugir com Juniper.

Aos poucos, Nichols revela que este é um filme sobre amor, vários tipos de amor: Mud e Juniper, a amizade entre Ellis e Neckbone, os pais do garoto. Amores que precisam de concessões para se manterem vivos.

O diretor, que também assina o roteiro, parece acreditar que as pessoas são fruto, entre outras coisas, de seu espaço. E, se, na reta final, aparecem histórias demais em "Amor Bandido", a delicadeza do filme compensa o acúmulo.

Muito do filme funciona graças ao talento de Sheridan - que em 2011 já havia mostrado ao que veio em "A Árvore da Vida" -, que faz sem vacilar um garoto inocente apaixonado pela primeira vez e, dessa forma, crente na força redentora do amor. É isso que o move a se arriscar e ajudar Mud e Juniper. Por outro lado, seu amigo é o contraponto, pragmático e cínico; ele é o alívio cômico do filme.

Esse é o primeiro longa de Nichols a chegar aos cinemas brasileiros. Seu filme anterior, "O Abrigo" (lançado direto em DVD), é um retrato corajoso e instigante sobre um pós-apocalipse dos nossos tempos. Aqui, o cineasta vai para uma outra chave, a da redenção, e se mostra tão confortável em um filme otimista quanto estivera num pessimista.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb