"A Grande Beleza" atesta maturidade do diretor Paolo Sorrentino
Com uma assumida inspiração --mas nunca imitação-- felliniana, em seu novo filme, "A Grande Beleza", o diretor italiano Paolo Sorrentino (de "Aqui é o Meu lugar") ancora nas paisagens de uma Roma luminosa e mágica a trajetória de Jeb Gambardella (Toni Servillo). O filme estreia nesta sexta-feira (20) nos cinemas.
Escritor que conheceu o sucesso instantâneo em sua primeira obra, nas últimas décadas, ele se tornou um mundano exemplar. Por meio das andanças boêmias deste cínico sessentão, Sorrentino constrói uma dissecação aguda do modo de vida da elite italiana, sem deixar de temperar a amargura com a constatação de que há, sim, poesia, no simples ato de viver. E realiza, por assim dizer, a sua "A Doce Vida" dos anos 2000.
A tal "grande beleza" de que trata o título é, afinal, uma busca do próprio Jeb --que, por trás de sua frustração e niilismo não perdeu, lá no fundo, o desejo de procurá-la, sob a forma da primeira mulher de sua vida, dos sentimentos de infância, de tudo aquilo que, lá atrás, fez vibrar seu coração e sua literatura que se estancou na primeira tentativa, no primeiro livro.
O sucesso, como a beleza de Roma, da mesma maneira que inspira pode funcionar como combustível dessa espécie de paralisia moral que contamina a todos esses personagens do círculo de Jeb --sua editora (Giovanna Vignola), seus amigos ricos, cujo vazio, assim como o seu próprio, ele desmascara, sem ser capaz de escapar dessa espécie de pântano, emendando festas, noitadas, bebedeiras, drogas, casos efêmeros e nenhuma alegria genuína.
Algumas sequências ficam na memória, como a cínica visão de uma clínica de aplicação de botox, funcionando num um ritmo alucinante, e o sublime passeio noturno de Jeb e sua acompanhante, Ramona (Sabrina Ferilli), por uma série de tesouros artísticos de Roma, trancados em palácios privados e acessíveis apenas porque o escritor conhece o guardião de suas chaves.
Não menos aguda é uma assombrosa galeria de personagens, como os nobres de aluguel para festas com pretensões, os condes Colonna (Fabio Graziosi e Sonia Gessner), um cardeal que só fala de gastronomia (Roberto Herlitzka) e a assim denominada "santa" (Giusi Merli) --figura que permite ao diretor tecer comentários sutis sobre a inescapável presença da religião na capital italiana.
Nenhum aspecto foi descuidado, do roteiro primoroso --assinado por Sorrentino e Umberto Contarello-- à fotografia de Luca Bigazzi, à montagem fluente de Cristiano Travaglioli. Tudo isso faz com que as 2h22 do filme transcorram sem peso, inspiradoras, levando o público no seu vigor, nas suas ideias, nos seus diálogos, na sua reflexão madura sobre os impasses da contemporaneidade, não só da Itália.
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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