Humor, Harrison Ford e Mel Gibson sustentam "Mercenários 3"
Apesar do desgaste evidente, usual em quase todas as franquias que chegam ao terceiro filme, "Os Mercenários 3", idealizado pelo ator Sylvester Stallone, ainda está longe, em um clichê feroz, da aposentadoria. E a explicação não recai apenas nas extraordinárias (e irreais) cenas de ação, mas no humor gerado pela escolha do elenco de apoio que, nesta terceira versão, conta com Harrison Ford, Mel Gibson, Wesley Snipes e Antonio Banderas. O filme estreia nesta quinta (21).
Quando lançou o capítulo inicial, em 2010, Stallone, que assina também a produção e roteiro, não se reinventou. Resgatou estrelas de filmes de ação das décadas de 1980 a 2000 (algumas esquecidas, como Dolph Lundgren) para criar, numa quase paródia ao gênero, seu exército de mercenários.
Arnold Schwarzenegger (não creditado na época), Bruce Willis, Jet Li, Jason Statham estavam lá para acompanhá-lo, trazendo consigo a memória de seus personagens ao público. O mesmo ocorreu na sequência de 2012, que levou às telas Jean-Claude Van Damme e Chuck Norris e, agora, com Gibson, Snipes, Banderas e Ford —que substituiu Willis, pois o ator de "Duro de Matar" pedia um cachê de quase US$ 1 milhão por dia de filmagem.
O grande trunfo de Stallone não está na reunião, e sim no uso das múltiplas referências aos heróis e vilões que marcaram a filmografia de todos eles. Em "Os Mercenários 3", por exemplo, não faltam alusões a "O Demolidor", "Máquina- Mortífera", "O Predador", "Comando para Matar", "Assassinos", "O Juiz" e até "Rocky IV". Uma espécie de quebra-cabeças para fãs do gênero montarem.
A linha narrativa dos roteiros, por isso, nunca foi bem desenvolvida, servindo apenas de escora para a ação e a comédia. No terceiro filme, não é diferente. Aqui, o grupo de mercenários liderados por Barney (Stallone) precisa salvar Doc (Snipes), companheiro do grupo, que está sendo transportado para uma prisão de segurança máxima.
Logo após o resgate, recebem de Drummer (Ford) a missão de eliminar uma quadrilha internacional de traficantes de armas. A tarefa sofre um revés quando descobrem que o chefe da operação ilegal é ninguém menos que Stonebanks (Gibson), co-fundador dos mercenários, a quem Barney acreditava ter assassinado uma década antes por ter se vendido ao "lado negro".
Como se sente responsável pela situação e sem querer que seus companheiros morram nas mãos do perigoso Stonebanks, Barney desfaz seu grupo e, com a ajuda de Bonaparte (Kelsey Grammer), contrata novos recrutas (Glen Powell, Victor Ortiz, Ronda Rousey e Kellan Lutz). Uma transformação, claro. Como são jovens e ligados a novas tecnologias, estão bem à frente da vida analógica de seu comandante (cujos planos se resumem a "chutar a porta e entrar atirando").
Embora o enfrentamento geracional leve a risadas, é nos diálogos entre a velha guarda que as piadas aparecem com mais gás. Frases como "se ele ficar bravo você ficará bem surpreso... e bem morto" são exemplos do humor regado a muita testosterona, que se eleva em praticamente todas as cenas.
Esperando um estrondoso sucesso, a distribuidora do filme no Brasil, a Califórnia, foi ambiciosa ao programar uma estreia de quase mil cópias do filme. Algo gigantesco. Em uma comparação simples, os dois últimos grandes lançamentos, os sucessos "Guardiões da Galáxia" e "As Tartarugas Ninjas", estrearam em 917 e 760 salas, respectivamente.
A fórmula de Stallone, no entanto, já mostra sinais de desgaste nos Estados Unidos. Em seu lançamento no país, no último fim de semana, o filme (cujo orçamento estimado é de US$ 90 milhões) não arrecadou sequer US$ 17 milhões, o que, no quadro de Hollywood, representa fracasso. O fiasco foi explicado pelo vazamento do filme na Internet antes da estreia, mas apenas em parte.
Apesar de engraçado, quando em contexto, "Os Mercenários 3" é, sim, mais do mesmo. Algo que não parece importar a Stallone, que já anunciou o quarto capítulo, tal como novos filmes do "Rambo" e "Rocky".
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