Mads Mikkelsen luta por justiça em adaptação francesa de "Michael Kohlhaas"
O polivalente ator dinamarquês Mads Mikkelsen, de "A Caça" e "O Amante da Rainha", tem uma presença de cena quase hipnótica. Com um rosto cujas feições parecem esculpidas em pedra, é contagiante e carismático nos mais diferentes papéis, sejam eles de características mercuriais ou de absoluta serenidade. Entende-se, portanto, porque ele é o grande chamariz do drama histórico "Michael Kohlhaas - Justiça e Honra", que estreia nesta quinta (4), mesmo não sendo sua atuação mais expressiva.
Baseada no romance do alemão Bernd Heinrich Von Kleist (1777/1811), a história narra a luta do personagem título em sua busca por justiça no século 16. Ele é um negociante de cavalos que, ao ir à cidade, tem dois de seus melhores animais confiscados por um barão (Swann Arlaud), como garantia à licença de transitar por ali.
Quando descobre que o documento é ilegal no principado, volta para reaver seus cavalos, mas descobre que eles foram maltratados, tal como o seu cuidador, violentamente atacado por guardas do barão e seus cães.
O caso segue para a corte que, graças à influência do aristocrata, rejeita o pedido de indenização. Para piorar, sua esposa Judith (Delphine Chuillot) é assassinada ao tentar interceder por ele junto à princesa (Roxane Duran), autoridade máxima da região.
O agora viúvo Kohlhaas embarca em uma empreitada por justiça. De espada na mão, acaba se tornando o líder dos injustiçados dessa comunidade, que se voluntaria para combater ao seu lado. Com rígidos princípios éticos, provenientes de leituras de livros protestantes, começa uma perseguição ao barão, criando um desequilíbrio de poder.
A produção do diretor e roteirista francês Arnaud des Pallières traz diferenças gritantes em relação ao livro, que começam pela ambientação, transposta da Alemanha para a França (na região de Cevenas), e, em efeito dominó, configuram uma nova narrativa.
Há outros desvios, em especial em relação à metáfora política. Von Kleist olhava para a sanha de Napoleão ao escrever, ao mesmo tempo em que mostrava os ideais conflitantes entre o catolicismo e protestantismo na boca de seus personagens.
O diretor alemão Volker Schlöndorff, que baseado no mesmo livro realizou, em 1969, "O Tirano da Aldeia", não se furtou em realçar os acontecimentos de 1968 em seu filme, criando, junto à história, um mosaico de imagens do período. Condizente, até certo ponto, com a perspectiva dada pelo autor do original ao discutir o "hoje" em relação à obra.
Pallières evita qualquer nuance política, além das vantagens aristocráticas frente aos reles vassalos. Mas assina uma produção em que a fotografia (iluminada naturalmente com a beleza de Cevenas) e o excepcional trabalho do ator dinamarquês garantem o fôlego.
*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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