Nicole Kidman vive mulher com amnésia em "Antes de Dormir"
Às vezes, Hollywood conta com a falta de memória do público, repetindo temas que já tiveram êxito em outros filmes para tentar garantir o sucesso de uma nova produção.
Certamente, ao assistir "Antes de Dormir" (2014), longa produzido por Ridley Scott e estrelado por Nicole Kidman e Colin Firth, o espectador, diferente da protagonista desmemoriada, terá certo déjà vu, pois o problema da personagem é recorrente na sétima arte. O filme estreia nesta quinta (22).
A amnésia anterógrada, também conhecida como perda de memória recente, na qual o indivíduo não consegue reter novas lembranças após o despertar de uma doença neurológica ou determinado trauma físico ou psicológico, já inspirou vários filmes.
Entre eles, uma animação —"Procurando Nemo" (2003) com a inesquecível Dory—, comédias românticas —a famosa "Como Se Fosse a Primeira Vez" (2004) e o romance para TV "Como Não Esquecer Essa Garota" (2013)— e thrillers —o cult "Amnésia" (2000), que apresentou Christopher Nolan para o grande público, e o mais recente "O Vigia" (2007).
Por isso, as recordações desses outros longas poderão vir à mente de quem estiver na plateia deste suspense.
A adaptação de Rowan Joffe do romance de estreia de S. J. Watson apresenta, em sua primeira cena, Christine Lucas (Kidman) acordando atordoada.
Logo, o então estranho dormindo ao seu lado na cama se apresenta como Ben (Firth), seu marido há 14 anos. E, apesar do visível cansaço de sempre ter que explicar à esposa que um acidente causou nela uma amnésia que faz sua mente voltar, todos os dias ao acordar, aos seus vinte anos —quando ainda era solteira—, ele demonstra ser muito amoroso com a mulher.
Porém, quando ele sai de casa para trabalhar, telefona um homem que se identifica como Dr. Nasch (Mark Strong), um terapeuta que ela havia consultado uma vez às escondidas. O médico a avisa da existência de uma câmera digital, guardada em uma gaveta, com a qual ela grava vídeos diários —no best-seller, era um diário, de fato, que conduzia a segunda parte da narrativa— sobre sua condição e suas dúvidas.
É então que o público descobre, junto com a personagem, que ela já estava desconfiando do marido e, assim, acompanha sua caçada atrás da verdade.
Embora não tão eficiente quanto o recente "Garota Exemplar" (2014), o filme também faz uma alegoria da tensão de um casamento em forma de suspense, especialmente, no que diz respeito à confiança entre os cônjuges.
Só que neste caso, além do cenário inglês, é uma mulher dividida entre as figuras de dois homens nos quais ela não consegue, ou pode, confiar. Neste sentido, a escalação dos atores foi muito propícia para plantar a dúvida no público e tornar a virada mais interessante.
Colin Firth carrega a imagem de bom moço, tão conhecida em outros filmes, para um personagem misterioso, enquanto Mark Strong, depois de tantos vilões, aparece como um tipo que diz só querer o bem de sua paciente.
Já Nicole Kidman, que repete a parceria com Firth realizada no drama "Uma Longa Viagem" —que se repetirá na cinebiografia ainda em filmagem, "Genius" (2015) —mesmo mimetizando um pouco do seu trabalho em suspenses como "Os Outros" (2001), não merecia a injusta pré-indicação ao Framboesa de Ouro deste ano.
Isso porque o filme se sustenta, em grande parte, pelo seu pequeno e competente elenco. Joffe, que em 2010 teve sua estreia na direção do remake melodramático do noir britânico "Brighton Rock" (1947), até consegue prender a atenção do público, mas encerra sua obra com um final sentimental que difere do resto do longa e parece ter sido colocado apenas para servir de redenção a esta mulher.
ASSISTA AO TRAILER LEGENDADO DE "ANTES DE DORMIR"
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