Topo

Drama russo "Leviatã" tem esperança no Oscar, mas causa incômodo em casa

Eric Kelsey

De Los Angeles

12/02/2015 16h32

Andrey Zvyagintsev, o diretor do drama "Leviatã", olha para seu produtor e dá um sorriso amarelo. "Será que devia falar a verdade?", indaga o cineasta de 51 anos. "Não, vá em frente e minta", responde Alexander Rodnyansky com uma risada sarcástica.

"Leviatã" conta a história trágica do mecânico de meia idade Kolya, cuja vida desmorona quando ele desafia um prefeito corrupto por causa da tomada de sua casa e comércio. O filme acumulou elogios no exterior, mas dividiu a plateia em casa.

A produção, que foi atacada por autoridades russas do calibre do ministro da Cultura pelo seu retrato desolador da vida cotidiana e da linguagem grosseira de seus personagens movidos a vodca, é considerada favorita ao Oscar de melhor filme estrangeiro desde que conquistou o Globo de Ouro no mês passado.

"Tenho que dizer que o sucesso que o filme teve na Europa, Índia, Emirados Árabes Unidos e nos Estados Unidos por alguma razão irritou as pessoas que vivem na Rússia de uma maneira estranha", afirmou o diretor à Reuters. "Não sei por que, mas é um fato que não faz sentido discutir."

"Leviatã" também foi criticado pela maneira como aborda a Igreja Ortodoxa russa, que mostra incentivando a determinação do prefeito implacável em atingir Kolya com a ajuda da polícia e do judiciário.

"A recepção do filme no exterior prova sua universalidade - ele é entendido em todos os lugares", disse Zvyagintsev. "Ele evoca a compaixão por uma pessoa que se vê nas garras da injustiça e tenta preservar a dignidade."

Filmado no Mar de Barents, perto da fronteira russa com a Noruega, "Leviatã" usa a beleza selvagem do Ártico como contraponto ao desespero de Kolya à medida que seu sustento e sua família desintegram.

O prefeito inconstante, cujo escritório é dominado por um retrato do presidente russo, Vladimir Putin, levou muitos de fora do país a ver a produção como uma sátira, intenção que o diretor admite não ter tido. "Vejo mais como uma tragicomédia", afirmou.

Apesar do repúdio do governo local onde o filme foi feito, Zvyagintsev disse que os moradores que assistiram a uma exibição prévia aprovaram. "Os locais mencionaram o fato de que o filme é a absoluta verdade."

Os moradores do vilarejo responderam: "A vida é até mais dura", segundo o diretor.