Sequência "Magic Mike XXL" investe no espetáculo e tom cômico
Quando Steven Soderbergh lançou "Magic Mike" em 2012, o cineasta surpreendeu a crítica e a audiência ao trazer, como no desvelar da capa de um mágico, algo além de corpos sarados em um filme sobre homens strippers. Por trás dos abdomes "tanquinho" e braços musculosos que adornavam a superfície, o diretor fazia uma comédia dramática sobre a vida daqueles profissionais através do dilema de "Magic" Mike Lane (Channing Tatum).
Membro da classe trabalhadora durante o dia e astro do clube de strip comandado por Dallas (Matthew McConaughey) nas noites de Tampa, na Flórida, ele não sabia se continuava naquele ambiente que tanto fascinava o novato Adam "The Kid" (Alex Pettyfer), com dinheiro fácil e, obviamente, mulheres, bebidas e drogas à disposição ou se arriscava em seu sonho empreendedor na carpintaria.
Inspirada nos dias que o jovem Tatum trabalhava no ramo antes de ir para Hollywood, a história era em si tanto uma representação da recessão norte-americana quanto uma metáfora do mundo do entretenimento, especialmente da "aposentadoria" do próprio Soderbergh, que deixou a direção de cinema em 2013 para se dedicar à TV e outras funções cinematográficas. Todos esses elementos fizeram o longa, orçado em apenas 7 milhões de dólares, faturar mais de 113 milhões de dólares somente no mercado norte-americano, e assim alavancar a produção da sequência que chega agora no circuito brasileiro.
Diferente do seu antecessor, "Magic Mike XXL", dirigido por Gregory Jacobs, assistente de direção de longa data do Steven, traz mais casca e menos camadas de recheio. O filme estreia nesta quinta (30).
Se Matthew McConaughey, Alex Pettyfer e Cody Horn, atriz que interpretava Brooke, a irmã de Adam e interesse romântico de Mike, não retornam neste segundo filme, embora seus personagens tenham influência no ponto de partida da trama, pode-se dizer que a carga dramática do primeiro também não voltou para dar lugar ao grande espetáculo, aos números XXL.
Em contrapartida, outros coadjuvantes ganham destaque e perspectiva e a comédia tem muito mais força desta vez, em uma narrativa bem frouxa que segue os rumos de um road movie.
Alguns anos após os eventos do primeiro filme, Mike, já à frente de sua própria empresa de fabricação de móveis exclusivos, parece um pouco frustrado com os rumos de seu pequeno negócio e entediado com sua vida. Quando os antigos Reis de Tampa voltam à cidade a caminho da convenção de strippers em Myrtle Beach, na Carolina do Sul, ele impulsivamente pega a estrada com seus ex-colegas de palco para a apresentação de despedida do grupo. E assim segue o roteiro de Reid Carolin, mesmo autor do original, sem um destino certo, nem verdadeiros obstáculos aos personagens.
A viagem serve para o público conhecer melhor os lados zen e musical de Ken (Matt Bomer), o talento para as artes plásticas de Tarzan (Kevin Nash) e as aspirações de Tito (Adam Rodriguez) e seu food truck de frozen iogurte.
Porém, quem acaba chamando mais atenção é o Big Dick Richie de Joe Manganiello, não só pelo seu momento icônico na loja de conveniência —você nunca mais ouvirá "I Want It That Way" do Backstreet Boys da mesma maneira—, mas também por sua dúvida entre continuar fazendo as coreografias com que está acostumado ou inovar em seu último show, dando espaço para uma "lição" do protagonista sobre seguir o que você sempre quis fazer, seja na dança erótica ou na vida.
Se um lado mais humano destes homens-objeto é retratado, a plateia deles também ganha certa dimensão, com mulheres de diversas idades, negras, casadas e divorciadas também sendo apresentadas como espectadoras, além de um vislumbre de uma audiência gay. Rome (Jada Pinkett Smith), mestre de cerimônias que Mike conhece de seu início de carreira, chama suas clientes de "rainhas", e seu funcionário, o stripper/rapper Andre (Donald Glover), fala que elas procuram este tipo de serviço porque precisam ser ouvidas, já que seus maridos ou ex-namorados não o fizeram.
É uma tentativa de fazer com que o público-alvo se sinta compreendido, mas ainda assim permanece certo reducionismo: um pouco em seu discurso sobre o perfil das mulheres e, principalmente, na presença feminina que se encaixa no longa.
Jada é quem aproveita melhor seu espaço, mas Andie MacDowell e Elizabeth Banks esforçam-se ao máximo no pouco tempo de que dispõem em suas participações especiais, enquanto Amber Heard mal tem chance de se firmar como interesse romântico do protagonista nas três sequências em que aparece.
Soderbergh ainda participa ativamente desta produção assinando a fotografia e a edição sob os pseudônimos Peter Andrews e Mary Ann Bernard, respectivamente; sendo assim responsável, junto com o diretor Jacobs, por enquadramentos menos refinados que em seu "Magic Mike" e por uma queda de ritmo no segundo ato.
Mas se o primeiro centrava-se no pensamento sobre o futuro em um ambiente hedonista no qual o prazer instantâneo é o que dita as regras, este "Magic Mike XXL" faz o caminho inverso, mostrando os mesmos personagens tentando viver o momento como válvula de escape para o futuro que os assombra, algo que o filme já deixa claro de início, na cena na carpintaria, com Channing mostrando seu talento para a dança ao som de "Pony".
Assita ao trailer do filme
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