UOL Entretenimento Cinema
 

Ficha completa do filme

Comédia Dramática

As Estranhas Coisas de Paris (1956)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 27/11/2009
Nota 5
As Estranhas Coisas de Paris

Jean Renoir era um cineasta de gênio em diversas frentes, capaz de passar do filosófico (''As Regras do Jogo'', ''A Grande Ilusão'') à questão da representação (''A Carruagem de Ouro'', ''French Can Can''), e ao lúdico e poético drama do bem viver (''Boudu Salvo das Águas'', ''O Rio Sagrado''), passando pelas aventuras dentro de gêneros (''O Testamento do Dr. Cordelier'', ''O Crime do Sr. Lange'').

Com "As Estranhas Coisas de Paris" experimentou a comédia maluca, devedora dos filmes mais insanos dos irmãos Marx e do inflado Pandemônio (que talvez seja mais conhecido por seu nome original, Hellzapoppin'). Não se deu tão bem, apesar dos óbvios encantos de Ingrid Bergman, como uma princesa polonesa, e de Jean Marais, como um general usado como fantoche do poder.

Mas um filme menor de Jean Renoir é altamente recomendável, pois uma coisa não se perde, seu talento inigualável para administrar a presença dos atores no enquadramento e suas expressões corporais e faciais.

Com uma frontalidade pouco agressiva e muito funcional, consegue captar as menores nuances das interpretações dos atores como se fosse um espectador privilegiado de uma peça de teatro, um espectador que pudesse se movimentar pela frente do palco acompanhando seu ator preferido ou o centro da ação, sempre que quisesse. É uma arte que só grandes diretores conseguem exprimir, e Renoir certamente está entre eles.

Nesta comédia acelerada e em muitos momentos difícil de se acompanhar em todos os detalhes, os homens que rondam o poder são marionetes de outros homens, os que lidam com dinheiro. E as mulheres são instrumentos que uns utilizam para dominar outros. Simples assim.

Claramente Renoir está falando da época em que o filme foi feito, meados dos anos 1950, mais do que da época em que se passa a história (final do século 19). Mas não é difícil notar que, como todas as obras desses diretores considerados mestres, "As Estranhas Coisas de Paris" nos diz muito sobre o mundo de hoje, com suas frivolidades e fraquezas de caráter.

Muito se condena, às vezes com razão, quem só quer saber de maldizer as elites, culpá-las por todos os males do mundo. Mas a lição de Renoir, sobretudo em ''As Regras do Jogo'', mas também nesta versão amalucada (e até por isso, mais leve como crítica) do clássico de 1939, é que por mais que as roupas e costumes brilhem, as almas estão sempre desafiadas por uma instância reguladora. Para ele, sobrevivem com honra as pessoas que, a despeito de jogar o terrível e cruel jogo de manipulação da sociedade burguesa, com suas frágeis aparências, rendem-se mais facilmente às questões do coração. Nisso estamos iguais, tanto em 1890, quanto em 1956 ou 2009.

Compartilhe:

    Siga UOL Cinema

    Sites e Revistas

    Arquivo