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Ficha completa do filme

Drama

Corações Desesperados (1966)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 27/08/2010
Nota 3
Corações Desesperados

A carreira de Jules Dassin pode ser comparada a de outro expatriado e perseguido pelo macarthismo: Joseph Losey. Ambos tiveram seu período de glória na América, foram exilados na Europa antes de adotarem um lar mais ou menos definitivo, sem deixarem de ser, acima de tudo, cidadãos europeus.

Losey teve uma carreira brilhante nos EUA, mas com a ida para a Europa passou primeiro pela Itália, onde realizou "Imbarco a Mezzanotte", antes de se fixar na Inglaterra, onde dirigiu seus filmes mais famosos ("O Criado", "Estranho Acidente" e "O Mensageiro"), mas também algumas obras-primas ("À Sombra da Forca", disponível em DVD pela Lume, "Blind Date", "O Rei e o Cidadão"), saindo da terra dos Beatles para realizar filmes na França ("Cidadão Klein", "La Truite"), ou eventualmente na Itália ("Eva", "Galileo", "Don Giovanni").

Dassin teve sua época de ouro nos EUA, com filmes duros e pungentes como "Brutalidade" (1947), "Cidade Nua" (1948) e "Sombras do Mal" (1950). Após ser expulso pela caça às bruxas, ficou entre França e Itália, dirigindo produções que iam do razoável ao eficiente, cujo maior destaque, sem dúvida, é "Rififi" (1955).

Nos anos 1960, a decadência se tornou completa. Com Melina Mercouri, atriz grega com quem se casaria em 1966, realizou o sofrível "Nunca aos Domingos" (1960), e alguns filmes medíocres como "Phaedra" (1962), "Topkaki" (1964) e "Corações Desesperados" (1966), baseado em Marguerite Duras, o mais afetado deles, que incorpora (ou tenta incorporar) o estilo de montagem do cinema moderno, mais propriamente da Nouvelle Vague, somado às divagações existenciais caras a Antonioni.

Mercouri é casada, na trama, com Peter Finch (de "No Caminho dos Elefantes"), que teve um caso com a grande amiga dela, Romy Schneider (que o cinéfilo brasileiro pôde ver recentemente nos cinemas, no documentário "O Inferno de Clouzot"). Os três viajam juntos pela Espanha. Mercouri sente que o caso entre os amantes ainda não se arrefeceu, e ao mesmo tempo fica interessada em um assassino passional que está sendo procurado pela polícia da região.

Toda essa trama é temperada por uma direção cheia de firulas, como se Dassin tivesse se recusado a envelhecer, preferindo aderir a uma estética que visivelmente não dominava.

Voltando à conexão de Dassin com Joseph Losey, diretor de carreira infinitamente superior, Melina Mercouri fez com o segundo, em 1958, o soberbo "Por Amor Também se Mata", no qual desempenha o papel de uma mulher fatal com muito mais desenvoltura do que em qualquer das mulheres que interpretou para o marido.

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