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Ficha completa do filme

Comédia Dramática

Bem-vindo à Casa de Bonecas (1995)

Resenha por Edilson Saçashima

Edilson Saçashima

Da redação 16/07/2010
Nota 4

O cineasta Todd Solondz já foi acusado de ser cruel com seus personagens. Uma pitada de crueldade também poderia ser estendida ao tratamento dado ao espectador de seus filmes. Veja o caso de "Bem-vindo à Casa de Bonecas". Para um público desavisado, o título serve como uma espécie de convite a um mundo idílico. Mas o que vai se passar em pouco menos de uma hora e meia de projeção está longe de ser o retrato de um mundo perfeito de "barbies". O que Solondz expõe, na realidade, é uma grande sociedade de "patinhos feios" excluídos.

Neste caso, o "patinho feio" é uma garota pré-adolescente com o nome sugestivo de Dawn, traduzível como o período do dia chamado aurora. A garota está despertando para o mundo. Na escola, irá sofrer abusos e agressões que hoje são conhecidos pelo nome de "bullying". Em casa, Dawn vive entre o menosprezo do irmão mais velho e o ciúme da irmã, que é paparicada pelos pais.

No entanto, Solondz retrata todas essas situações com absoluta crueza, sem deixar traços de qualquer afetividade em relação à personagem. Por exemplo, um dos alunos assedia Dawn e diz que irá estuprá-la. Simples assim. Sem qualquer juízo de valor ou conotação moral.

É essa postura que torna o trabalho de Solondz perturbador. O cineasta leva sua protagonista a descobrir o mundo ao mesmo tempo em que ela se dá conta de que está excluída dele.

A ingenuidade e os bons sentimentos de Dawn vão sendo massacrados pela realidade, como se sua visão de mundo fosse a de um autista. Mas não é apenas isso. Além de ser uma figura apagada e desengonçada, ela é uma aluna que não tira boas notas e que não possui uma beleza padrão. A personagem é uma típica excluída social.

Expor esses aspectos da personagem faz com que Solondz chame a atenção para o processo de exclusão que ocorre no círculo familiar e social em relação àqueles que não se ajustam a um certo modelo pré-estabelecido.

A mensagem é simples: não só de barbies são feitas as supostas casas de bonecas que deveriam ser a sociedade. Por isso, o refúgio de Dawn é um local que é conhecido como clube de pessoas especiais, um eufemismo para "retardadas". Nesse sentido, não há nada mais irônico em "Bem-vindo à Casa de Bonecas" do que o próprio título.

"Bem-vindo à Casa de Bonecas", de 1995, foi o trabalho que deu visibilidade a Solondz, que depois faria o cáustico "Felicidade", mais um título que é uma armadilha ao espectador.

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