Che 2: A Guerrilha (2008)

Sérgio Alpendre

Da redação 22/01/2010

Nota 3

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Não era algo esperado, mas dois momentos de "Che 2: A Guerrilha" são de se tirar o chapéu. Ambos ocorrem na segunda metade do filme, quando é bem possível que o espectador já esteja aborrecido com o andamento pouco comercial trabalhado por Steven Soderbergh.

O primeiro, no dia 302 da campaha de Che, surge um montante de água refletindo o céu e algumas árvores. Sabemos, pela cena anterior, que vai haver uma traição de um camponês a um grupo de rebeldes. Logo em seguida aparecem, lá embaixo, muito mais distante do que nossos olhos imaginavam ser possível, alguns soldados que realizam uma travessia pelo rio.

Essa brincadeira com a distância pode até ser tola, mas é inegável a beleza da cena, principalmente pelo seu aspecto plástico, e a lembrança que traz da obra-prima máxima de Kenji Mizoguchi.

Tal e qual "O Intendente Sansho", que nos mostra as águas que abrigam o suicídio de Anju, a moça que se tornou escrava do intendente, ''Che 2'' revela as águas que sepultam um pequeno grupo de guerrilheiros, alvos de metralhadoras do exército boliviano.

No segundo momento, que coincide com o final da história do mártir e do filme, vemos a morte de Che por seus olhos. A câmera subjetiva cai no chão, suspira, ameaça se levantar novamente, mas sucumbe à ausência de foco e nos revela o desfalecimento. É um momento que inicia o trecho mais experimental do filme, e, por que não arriscar?, da carreira de Soderbergh.

Seu corpo é levado por um helicóptero. As matas surgem como tintas abstratas, servindo com precisão à fusão com uma memória remota, com um Che sonhador, num navio (indo para Cuba?).

Uma pena que a campanha boliviana de Che nem sempre seja filmada com essa pulsão cheia de riscos. Na maior parte do tempo somos convidados a alguns cochilos, interrompidos pelos estampidos de armas de fogo. A ausência de extras no DVD não ajuda. Mas se o espectador resistir à modorra da maior parte do filme pode deliciar os olhos com esses momentos destacados acima.