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Ficha completa do filme

Documentário

Maradona (2008)

Resenha por Claudio Prandoni

Claudio Prandoni

Da redação 23/06/2010
Nota 1

"Com vocês, o Diego Armando Maradona do mundo dos cinemas". Assim começa o filme sobre o lendário jogador, hoje técnico, da seleção da Argentina, mas quem aparece no palco para tocar com a No Smoking Orchestra é Emir Kusturica, diretor sérvio que comanda a produção. A cena resume bem o que é "Maradona", documentário lançado em 2008: um show que fala do mítico camisa 10 canhoto, mas também serve para explicar quem é o próprio Kusturica - na visão dele mesmo, claro.

Em tempo: a forma pode enganar, mas o filme não é exatamente um documentário. Há entrevistas com amigos e familiares, cenas da vida íntima do ex-atleta e imagens de arquivo, mas o diretor não esconde que o longa-metragem é na verdade uma grande homenagem de fã para Maradona. Kusturica pontua sem hesitar - e perguntar a mais ninguém - que Dieguito é o melhor jogador de todos os tempos, como se fosse uma máxima consolidada e incontestável da história do futebol.

Durante os cerca de 90 minutos de filme a narrativa pinta Maradona como um heroi clássico: nascido da miséria, envolto em brigas e polêmicas e destinado a feitos grandiosos. Por exemplo, a antológica partida entre Argentina e Inglaterra na Copa do Mundo de 1986 - aquela em que Diego fez um golaço driblando meio time e outro com a mão, a tal "Mão de Deus" - é citada à exaustão, como um símbolo de espírito revolucionário do jogador.

Tudo é motivo para glorificar Maradona, sejam seus gols fantásticos, a infância no bairro pobre de Fiorito (o qual Kusturica compara à Sarajevo destruída) ou seu engajamento político, incluindo uma grande adoração a Fidel Castro. Até aí é claro um paralelo que o diretor traça entre a própria vida e a de Diego, como se tentasse explicar a si mesmo por meio do ídolo.

Contudo, a adoração alcança níveis exagerados quando o assunto é família e o problema que El Pibe teve com drogas. Maradona fala francamente sobre o assunto, mas o filme glorifica a questão, mostrando-a como um erro que humaniza - aliás, o próprio jogador diz que "se até Jesus tropeçou", por que não ele?

Há momentos em que a situação beira o cômico: em uma cena, Kusturica visita uma boate na Argentina em que duas bailarinas fazem um show erótico - "Não são strippers", garante o dono do lugar-, mas o diretor e outros homens na sala preferem prestar atenção na televisão, que passa gols de Maradona. Outros momentos durante o filme mostram a pitoresca Igreja Maradoniana, que tem suas preces e crenças baseadas na vida e obra do atleta - o casamento, por exemplo, é celebrado em um campo de futebol e sacramentado com um gol de mão, como o feito contra a Inglaterra.

Quem espera por um documentário investigativo, mais factual e imparcial, como Kusturica chega a sugerir no início, vai se decepcionar e talvez até se irritar com o fanatismo do diretor. Porém, "Maradona" faz um ótimo trabalho ao mostrar elementos pontuais da vida do atleta como futebolista, pai de família e ator político e como tudo isso culmina na figura mística que é o argentino. Difícil de explicar e entender, mas muito fácil de se encantar.

Pelo tempo que levou para chegar ao mercado brasileiro, o DVD lançado peca apenas pela simplicidade: não há nenhum tipo de conteúdo extra, o áudio é apenas o original (com inglês e espanhol misturados) e o formato de tela oferecido é apenas widescreen anamórfico.

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