O Fantástico Sr. Raposo (2009)

Sérgio Alpendre

Da redação 10/12/2010

Nota 4

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Wes Anderson sempre trabalhou num registro próximo da fábula, seja na comédia romântica com toques de rito de passagem da adolescência para a idade adulta, caso de ''Três é Demais'' (1999), seja na sátira familiar de ''Os Excêntricos Tenenbaums'' (2001), ''A Vida Marinha com Steve Zissou'' (2005) ou ''O Expresso Darjeeling'' (2007), ou ainda na comédia semi-tarantinesca com que estreou em longas, ''Pura Adrenalina'' (1996).

Sua maneira de olhar para as coisas, os ambientes, os conflitos pessoais tangenciava alguns elementos irreais, fabulosos. Essa tendência fica ainda mais evidente em ''O Expresso Darjeeling'', justamente seu penúltimo filme, indicando um caminho que se completa agora, à perfeição, com o sexto longa, ''O Fantástico Sr. Fox'' (2009).

Trata-se de uma animação baseada em livro de Roald Dahl (o mesmo de ''A Fantástica Fábrica de Chocolate'') que conta com vozes de George Clooney, Meryl Streep e os ''suspeitos usuais'', Bill Murray, Owen Wilson e Jason Schwartzman.

Clooney é o raposão que desiste de roubar galinhas para ser colunista de um jornal do mundo das raposas (mundo em que coexistem pacificamente com elas os gambás, texugos, coelhos selvagens e outros bichos geralmente tidos como inconvenientes, além dos cruéis humanos, que resistem às tentativas de roubos de suas propriedades). Um dia, cansado da vida de pobre que um jornalista leva, resolve dar o grande golpe, e cometer, com a ajuda do gambazão e do sobrinho metido a geniozinho, um triplo roubo. Para isso aluga uma casa imponente no alto de uma árvore, de onde pode avistar suas três futuras vítimas.

Muitos podem argumentar que o mundo do raposão é o mundo em que vivemos, e de certa forma estarão certos. Mas é também um mundo em que raposas pagam aluguel, lidam com imobiliárias, patrões e crises existenciais, ou seja, um mundo de fábula.

Com um roteiro de exímia inteligência, co-escrito por Noah Baumbach, diretor de ''A Lula e a Baleia'', e com o auxílio de um trabalho técnico primoroso, Anderson aproveita os pontos fortes do imaginário de Dahl e as vozes de seus leais parceiros - a de Clooney cai com tamanha perfeição no Sr. Raposão, assim como a de Schwartzman no filho, e a de Willem Dafoe num rato que trabalha como segurança de um dos humanos roubados. Algumas expressões dos animais foram inspiradas nas expressões dos atores que normalmente trabalham com ele. O espectador não terá muita dificuldade, talvez, em reconhecer os rostos de Bill Murray e Jason Schwartzman, por exemplo.

Em todo momento delicioso de se ver, ''O Fantástico Sr. Raposo'' perde apenas por alguns diálogos em que as traduções para o português não estão à altura das falas originais. Menos culpa dos tradutores do que da riqueza na elaboração das falas, que atualizam os escritos de Dahl de maneira brilhante.