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Ficha completa do filme

Drama

8 ½ - Fellini Oito e Meio (1963)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 5
8 ½ - Fellini Oito e Meio

Vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro e figurino e do Grande Prêmio do Festival de Moscou. Foi homenageado por vários cineastas, entre eles Woody Allen (em "Memórias/ Stardust Memories", 1979; Bob Fosse "Allthat Jazz, o Show deve Continuar", 1979; Paul Mazursky, "Um Doido Genial/Alex in Wonderland", 1970, onde o próprio Fellini fez ponta). Também foi adaptado para um show da Broadway estrelado por Raul Julia ("Nine").

A fita é autobiográfica em todos os sentidos e apenas Mastroianni pôde ler o roteiro completo (ele compôs seu personagem usando chapéu, capa, tudo parecido com o diretor). Foi rodado como "Eu Confesso" (o meio do título veio porque Fellini havia estreado na direção co-dirigindo "Mulheres e Luzes/ Luci di Varietá", 1950, com Alberto Lattuada). Este pode ou não ter o Fellini incluído porque dali em diante todas suas fitas teriam o nome do autor no título).

Para viver Saraghina foi escolhida uma cantora de Ópera chamada Eddra Gale (que faria até outras fitas). Talvez haja outros filmes de Fellini (1920-1993) igualmente memoráveis. "A Estrada da Vida", por exemplo, onde ele transcendeu os limites da poesia na figura "chapliniana" de Gelsomina, feita por sua mulher e musa Giulietta Masina (1920-1994). Logo depois ela esteve novamente sublime em "Noites de Cabíria" (1957).

Ou então momentos isolados geniais como a seqüência inacreditável e cortada pela nossa censura do desfile de roupas eclesiásticas de "Roma Cidade Aberta" (1972). Ou no francamente autobiográfico e encantador, "Amarcord",o u seja "Eu me Recordo", no dialeto de sua terra natal Rimini.

Mas se Federico Fellini era indiscutivelmente um gênio, sua obra-prima é um filme ainda mais autobiográfico, a partir do próprio título "Oito e Meio" é a história de um cineasta famoso em crise, que acha que não tem mais nada a dizer. Fica enrolando o produtor, a equipe, a estrela Claudia Cardinale, todos esperando suas instruções, enquanto mistura lembranças do passado e imagens de sua fantasia.

O filme foi notável por ter sido o primeiro a não explicar antes para o espectador o que está sucedendo. Passado, presente e imaginação podem estar convivendo no mesmo plano e tudo fica absolutamente claro. Mas na época era extremamente ousado e original. O filme começa com um pesadelo, esplendidamente fotografado em preto e branco por Gianni di Venanzo, que dali em diante se supera com contrastes fortes, chegando aos limites do que era possível naquele momento (infelizmente Venanzo morreu cedo).

Como num delírio, o cineasta feito por Marcello Mastroianni imagina unir na mesma dança, a esposa Anouk Aimée - que tenta parecer Giulietta, com a amante Sandra Milo (que era mesmo caso do diretor). Ou manter um harém com todas as mulheres de sua vida, que um dia resolvem se rebelar (no elenco feminino, Fellini chamou algumas das mulheres mais interessantes do momento, inclusive a atriz de fitas de terror, Barbara Steele, a estrela dos anos 40 Caterina Borato, a estrelinha Hedy Vessel, etc).

Tão seminal quanto "Cidadão Kane", o filme foi também premonitório, Fellini realmente entrou em crise e o filme seguinte, "A Viagem de Guido Mastorna", deixou inacabado conforme fazia o protagonista do filme. Longe de ser um filme fácil, "Oito e Meio" é uma fita que resiste a análises e interpretações, muito ajudada pela magnífica trilha musical de Nino Rota, o colaborador mais fecundo e importante na carreira do diretor.

A seqüência final no circo, Fellini imaginou de última hora e por isso nem todo o elenco pode estar presente. Mas reflete muito sua visão de mundo. A vida é um circo, diz ele, e o único jeito de se continuar vivendo é nós todos nos darmos as mãos, nos aceitarmos e sairmos dançando pelo picadeiro.

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