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Ficha completa do filme

Suspense,Policial

Almas Perversas (1945)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2006
Nota 4

Durante a fase americana da carreira do alemão Fritz Lang (1896-1976), com seu passado no período mudo e no expressionismo, nada mais natural que ele ficar à vontade no ambiente sinistro, estilizado e inóspito do filme noir. Lang já havia feito outros excelentes filmes do gênero ("Quando Desceram as Trevas", com Dan Duryea, "Um Retrato de Mulher", com Edward G. Robinson e Joan Bennett) quando realizou na Universal esta que foi uma de suas obras-primas nos EUA, reunindo os três atores.

Baseado no romance "La Chienne", do francês Georges de la Fouchardière (que já havia sido filmado por Jean Renoir em 1930, como "A Cadela", com Michel Simon), mostra o triste desenvolvimento do triângulo amoroso entre um caixa de empresa, tímido e fracassado, oprimido pela própria mediocridade, uma prostituta amoral e insensível e seu violento gigolô. Na versão de Renoir havia humanismo e a história era tratada como uma tragédia social. Mas Lang preferiu carregar na sordidez, no fatalismo, no erotismo e na exibição de alguns dos seres mais patéticos já vistos no cinema.

Robinson (1893-1973) faz com perfeição o protagonista (cujo sobrenome, apropriadamente, é Cross, cruz), um pobre-diabo casado com uma pavorosa megera (Rosalind Ivan), que pinta seus quadros no banheiro para fugir da ira dela e que facilmente cai na lábia da bela prostituta (que ele não percebe do que vive) Joan Bennett (1910-90), que claramente gosta de apanhar de seu gigolô Dan Duryea (1907-68). Ninguém é bom ou compassivo no filme, não há heróis e é impossível se identificar ou mesmo sentir pena dos personagens (nem mesmo do patético pintor, que, aliás, tinha muito de autobiográfico de Lang).

Tudo o que o diretor quer mostrar é como o mal e a podridão podem ser contagiosos e impregnar tudo ao seu redor, e como, ao final, tudo será compensado com o merecido castigo. Isso é conseguido não apenas através das excelentes atuações (Joan, em especial, está a perfeita femme fatale), mas principalmente graças ao clima opressivo e claustrofóbico, com tudo estilizadamente feito em estúdio, e com ritmo perfeito que constrói a tragédia anunciada com total maestria.

Violento e franco para os padrões da época (o que, surpreendentemente, gerou poucos problemas com a censura, embora tenha sido proibido em certas cidades), é um dos grandes filmes do cinema noir e envelheceu bem. Foi um sucesso no lançamento e era sempre lembrado por Lang como um de seus melhores filmes. O filme foi produzido pela Diana Productions, em que Joan, seu marido produtor Walter Wanger e Lang eram associados. Por isso, este foi o filme americano de Lang onde teve maior autonomia.

Excelente equipe técnica, incluindo a trilha musical de Hans Salter (Lang queria que as músicas saíssem sempre de alguma fonte, rádio, vitrola, alguém cantando) e rejeitou todo romantismo. Os sócios brigaram ao final porque Lang demorou demais na finalização e Wanger lhe cortou algumas ceninhas. Ao contrário do citado na capinha, não há legendas em espanhol.

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