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Ficha completa do filme

Romance

Desencanto (1945)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2006
Nota 5

Premiado no primeiro Festival de Cannes (as regras eram outras, mas seria como um Prêmio Especial do Júri), foi indicado aos Oscars de Melhor Roteiro, Direção e Atriz (mas em 1946). Refilmado para a tevê em 1975, com Sophia Loren e Richard Burton, foi exibido em nossos cinemas como "Ligações Proibidas", dirigido por Alan Bridges.

Quem conhece David Lean apenas como o realizador de grandes espetáculos, tipo "Lawrence da Arábia" e "A Ponte do Rio Kwai" (ou mesmo a bela história de amor "A Filha de Ryan", que é um pouco estragada por seu aspecto de super-produção exagerada), deveria procurar este belo e modesto filme, que ele rodou ainda na época, em que seu trabalho estava ligado ao mentor e amigo Noel Coward (com quem começou co-dirigindo "Nosso Barco, Nossa Alma").

Inspirado numa peça do próprio Coward, "Still Life", de um ato de meia hora, passada em 1935 (alguns poucos detalhes do filme apenas denotam a época em que ele se passa, inclusive no figurino dela, no chapéu, que demonstra que ela é provinciana). É uma pequena, singela e obra-prima do cinema romântico. Com gente comum, não especialmente bonita, por isso mesmo mais humano e sensível. Principalmente porque o encontro carnal entre eles nunca é consumado.

A maior parte da crítica reclama de uma falha no filme, o alívio cômico do condutor da estação com a dona do bar, que iniciam o filme (enquanto o casal central está de fundo tendo seu último encontro) e o próprio Lean dizia que ficava embaraçado com essas seqüências cada vez que a revia. Logo depois chega uma amiga da heroína muito faladora que não deixa os dois conversarem sozinhos, o que parece concluir a situação de forma desajeitada.

Já no trem, ela finalmente começa um monólogo interior, prosseguido depois em sua casa, recordando como conheceu o médico, como aos poucos e timidamente os dois foram se envolvendo, indo ao cinema, passando tardes juntos, se descobrindo como refúgio de sua vida banal de esposa de homem medíocre, as tentativas de consumar o adultério, o medo, os problemas, os embaraços e desencontros nas paradas de trem, a dor, as mentiras, o sofrimento de ter um amor proibido (tudo isso tendo como fundo o tema musical de Rachamaninov, despudoradamente romântico).

E finalmente o desencontro e a necessidade da separação. Justamente aí é quando temos o grande momento, é a mesma cena inicial, agora vista pelo ponto de vista da heroína, altamente emocional (aliás, o filme é todo segundo ela, não ficamos conhecendo a esposa do médico).

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