O Beijo da Morte (1947)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 09/06/2009

Nota 4

Não a refilmagem de 1995 de Barbet Schroeder com Nicolas Cage, mas esta versão que hoje é considerada um clássico do film noir, que tem um roteiro da notável dupla Ben Hecht e Charles Lederer. Victor Mature, menos canastrão do que sua fama faz pensar, interpreta o gângster que vai para a cadeia quando participa de roubo de joalheria porque não consegue emprego, porque tem ficha policial. Mas para cuidar das filhas, acaba se tornando delator, tentando pegar o notório assassino Tommy Udo.

O filme é famoso principalmente pela revelação do estreante Richard Widmark, que se tornou conhecido no Brasil como "O Risadinha", por causa duma cena terrível, mas clássica em que ele empurra uma velha escada abaixo. É dos vilões mais fortes do cinema. Ele foi indicado ao Oscar de Coadjuvante, assim como também a história original de Eleazar Lipsky. Ganhou Melhor Roteiro em Locarno e Widmark ganhou Globo de Ouro de Revelação.

Originalmente, Patricia Morison fazia a esposa de Victor que é atacada e estuprada por um gângster que supostamente estaria cuidando dela enquanto Mature estava na prisão. Depois ela se suicidaria enfiando a cabeça num fogão e ligando o gás. Mas as duas cenas foram cortadas por insistência dos censores, embora o nome de Morison apareça no crédito, mas não no filme (onde apenas se menciona o suicídio).

A fita coloca nos letreiros de apresentação que foi toda rodada em locações em torno da cidade de Nova York (algumas cenas, porém, cheiram a estúdio), o que era importante na época porque se falava muito em realismo. Hoje, no entanto, a ênfase é no clima expressionista da foto, o uso esparso da música, a trama trágica e sem saída, o narrador off (no caso, a namorada do herói, uma escolha curiosa para esse tipo de filme, o que permite um final feliz que parece ter sido colocado na última hora). Ou seja, tudo aquilo que o coloca em lugar de honra entre os filmes noir da Fox.