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Ficha completa do filme

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Operação França (1971)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2002
Nota 4

Tem filmes que melhoram com a idade. É o caso raro desta fita dos anos 70 que resiste bem até hoje. Explico: a década foi uma época muito infeliz em termos de moda. As roupas eram extravagantes, as cores berrantes, o próprio cinema usava maneirismos em excesso (o pior deles é a lente zoom que irrita porque a vista humana não tem a habilidade de aproximar e se afastar rapidamente dos objetos como ela conseguia fazer).

Em geral, os filmes desse período ficaram datados, um pouco ridículos. Este e sua continuação são exceção. Diria mesmo que melhoraram. Nunca gostei do diretor William Friedkin. Depois do sucesso deste filme e do "Exorcista", outro que sempre achei superestimado, dizem que subiu à cabeça, que ficou arrogante, metido, insuportável. Friedkin vinha de uma carreira de documentarista promissora e fez um competente trabalho aqui, que resistiu lindamente ao tempo. A caixa que a Fox lançou com os dois filmes praticamente esgota o assunto (e a única reclamação foi não terem legendados os extras).

Vencedor dos Oscars de Filme, Direção, Ator (Hackman), Roteiro Adaptado e Montagem, ficamos sabendo de todos os detalhes através de dois excelentes documentários. Como o ator Fernando Reyfoi chamado por engano (Friedkin pediu um ator de "Belle de Jour", ao que parece Francisco Rabal, e por engano chamaram Rey que não sabia falar francês, quando tem que usar o idioma é dublado por outro). Como Friedkin nunca conseguiu sequer ler o original de Robin Moore, inspirou o filme (e o autor teve de jurar que nunca iria ao set). Como o estúdio queria mudar o nome (para "Popeye" e outros absurdos semelhantes). Como a perseguição de carro e metrô, foi criada para conseguir superar a de "Bullit", na época considerada o máximo no gênero e que toda a seqüência com o carro correndo pelo trânsito foi rodada pra valer, sem estabelecer stunts ou planejamentose e quando bate, foi trombada de verdade (foram 26 quarteirões a 90 milhaspor hora).

E o mais surpreendente - e míope - Friedkin não queria Hackman para o papel principal, ele teve que ser imposto pela produção (obviamente este foi o filme que o transformou em astro e criou a reputação dele ser um dos mais confiáveis atores de sua geração). Outro que não pensava em Hackman, era o personagem real, Eddie Egan (que se achava parecido com o hoje esquecido Rod Taylor), que acabou aparecendo no filme como o chefão de Hackman. O seu parceiro Sonny Grosso também está na fita (e depois virou produtor de cinema, um dos Making of é até apresentado por ele, Eddie morreu em 1995). Os dois haviam feito em 1961 a maior apreensão de heroína na história dos EUA até aquele momento. O roteiro atualizou a trama, que foi rodada em locações em Nova York em pleno inverno (todos reclamam do filme que fazia) e em lugares extremamente ermos e pouco vistos nas telas.

Um problema no Brasil são sempre as legendas que nunca conseguem traduzir direito os grandes momentos. Por isso que aqui nunca ficou famoso um diálogo da fita, que o documentário aprofunda, era um jogo de palavras usado pelo verdadeiro Egan, que brincava e atormentava os bandidos com a frase "Pick your feet in Poughskeepie", um trocadilho incompreensível com uma cidade perto de Nova York que se chama assim. Quase todo improvisado, extremamente realista e inovador, Operação França é um clássico moderno que merece sua reputação. Um Box que você merece ter em casa

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