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Ficha completa do filme

Drama

Último Tango em Paris (1972)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2002
Nota 1

Para ver como tudo é relativo, um dos filmes mais famosos e escandalosos de todos os tempos, "Último Tango em Paris", agora sai em DVD com censura a 14 anos. E pensar que durante anos o filme esteve proibido pela censura brasileira e só foi liberado aqui em 1979, ou seja, sete anos depois de sua estréia, já na época da chamada "Abertura". Mesmo naquele momento, o filme já tinha perdido seu impacto escandaloso, até porque suas cenas famosas já tinham sido motivo de piada e brincadeira. Afinal, quem nunca ouviu falar na história da manteiga? Mas este filme do italiano Bernardo Bertolucci é assumidamente uma fita de arte e bem de seu tempo.

O que impressiona hoje não é sua história, nem suas cenas de sexo, mas o trabalho dos colaboradores de Bertolucci, todos famosos depois, o fotógrafo Vittorio Storaro, o diretor de arte Ferdinando Scarfiotti, o compositor argentino Gato Barbieri. Trabalhando com um roteiro aberto e improvisado, com a ajuda nos diálogos de Agnes Varda, Bertolucci conseguiu ficar amigo de Marlon Brando e teve com ele uma relação inédita. Brando na época estava com a idade do personagem, 45 anos, e no auge da carreira, depois de ter feito sucesso e ganho um Oscar com "O Poderoso Chefão".

Claro que também recusou o prêmio, protestando contra o tratamento cruel dado aos índios. De qualquer forma, ele se entregou como nunca ao personagem; grande parte dos textos são improvisados e inspirados em sua própria vida. Faz referências à sua mãe e à sua vida no Tahiti. É possivelmente o melhor momento de toda a carreira de Brando no cinema. Ainda não tão gordo quanto hoje em dia, ele está com um ar de profeta carismático, numa participação menos maneirosa do que costume. Tem momentos de real emoção, tanto que pelo filme ele teve novamente uma outra indicação ao Oscar, que não recusou porque não ganhou. O curioso é que o filme teve um impacto tão grande que apesar do escândalo e da censura NC-17, ou seja proibido para menores, Bernardo Bertolucci foi também indicado ao Oscar de Direção. Ele ganharia na sua indicação seguinte, quando "O Último Imperador" levaria nove Oscars em 1988, mas esse já era outro Bertolucci, o de "Último Tango" é mais verdadeiro, mais experimental.

O ponto fraco do filme são as cenas em que a heroína, Maria Schneider está com seu namorado, o francês Jean-Pierre Leaud, dos filmes de Truffaut, que é um diretor de cinema que faz um documentário sobre ela. Maria surpreende com seu ar doce e discreto e com um visual que na época também virou moda. Filha natural do ator Daniel Gélin, Maria até hoje trabalha em papéis secundários.

O filme ficou famoso por causa de duas cenas de sexo entre o casal no apartamento, ambas relativamente discretas, são duas formas de violentação tanto física quanto psicológica. Talvez por isso tenham tido tanto impacto. Mas o fato é que revendo o filme, se constata que ele não envelheceu bem, Marlon ainda é uma força da natureza, algumas imagens ainda tem beleza e poesia, mas o escândalo de ontem pode virar o bocejo de hoje.

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