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Ficha completa do filme

Documentário

Iracema, Uma Transa Amazônica (1974)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 15/11/2005
Nota 4

Realizada em 1974, em plena ditadura militar, esta co-produção com a TV alemã só foi liberada pela censura e exibida comercialmente no Brasil em 1981, após uma vitoriosa carreira em festivais internacionais. Este sucesso não causa espanto: o diretor Jorge Bodansky (em parceria com o co-diretor e roteirista Orlando Senna) fez uma contundente mistura de documentário e ficção, um road-movie rodado na Amazônia mostrando todas as mazelas da região e da hoje pouco lembrada Rodovia Transamazônica, que foi um dos símbolos da ditadura militar no Brasil.

Bodansky mostra uma realidade muito distante da alardeada pelo governo militar, empenhado no desenvolvimentismo e na campanha "Brasil : Ame-o ou Deixe-o". A Transamazônica que ele captou é permeada de miséria, prostituição juvenil, violência contra a mulher, trabalho escravo, desmatamento e queimadas.

Sua Iracema (interpretada pela amadora Edna de Cássia, que chegou a ganhar prêmio no Festival de Brasília mas não seguiu carreira) é, assim como a personagem do romance de José de Alencar, uma ingênua que crê no amor do branco, é tirada de seu meio e, por fim, abandonada. Paulo César Pereio, em grande momento, faz o caminhoneiro cafajeste, arrogante e contrabandista de madeira, que tem a visão dos exploradores do Sul: num lugar onde nada tem dono, vale a lei do mais esperto.

Bodansky filmou em 16mm, com equipe mínima e som direto, improvisando e interagindo com a população da região e com os atores amadores (além de Pereio, apenas a esposa do co-diretor, Conceição Senna, era profissional), aproveitando as situações que surgiam. Isso deu força e veraciade ao filme, e ampliou sua já considerável carga dramática.
Essa dramaticidade fica ainda mais forte hoje, quando sabemos que a Transamazônica foi mesmo um fracasso, a prostituição juvenil continua, e a cada dia a floresta amazônica é destruída com mais violência.

O filme envelheceu bem, e é considerado uma das grandes obras brasileiras da década de 70, louvado por cineastas como Hector Babenco e Fernando Meirelles (que diz que este foi o filme que o influenciou a abandonar a arquitetura em favor do cinema).

O DVD apresenta boa edição e cópia bastante razoável, apesar de um pouco riscada e gasta.

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