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Ficha completa do filme

Drama

O Fantasma da Liberdade (1974)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2006
Nota 4

O grande mestre espanhol Luis Buñuel (1900-83), então recém agraciado com a Palma de Ouro em Cannes por "O Discreto Charme da Burguesia" ("Le Charme Discret de la Bourgeoisie", 1972) tencionava encerrar sua carreira como diretor com este filme, o mais radicalmente surrealista desde seu começo de carreira nos anos 20 e 30 com "Um Cão Andaluz" e "A Era do Ouro" (ele acabaria voltando a dirigir mais outro, "Esse Obscuro Objeto do Desejo", convencido pelo produtor e amigo Serge Silberman).

É uma sucessão de episódios todos casualmente entrelaçados por algum personagem, sempre intrigantes e desconcertantes e que, bem no espírito surrealista, desafiam e ao mesmo tempo impossibilitam explicações racionais.

Ajudado no roteiro por seu colaborador habitual, Jean-Claude Carrière, o diretor tem algumas sacadas como quando nos mostra um jantar onde as pessoas sentam-se à mesa em privadas e se trancam em um pequeno cômodo para comer; monges que após rezarem para um doente, jogam cartas e bebem; uma menina dada como desaparecida que está o tempo todo à vista dos pais; fotografias obscenas presenteadas a duas meninas em um parque, que se revelam surpreendentes e, principalmente, um franco atirador que mata pessoas à esmo do alto de um prédio de Paris.

Buñuel (que aparece rapidamente no episódio inicial espanhol sob os créditos, como um dos condenados à morte), novamente despeja ironia feroz e sarcasmo sobre seus alvos prediletos: a burguesia, a autoridade constituída, o clero, a hipocrisia, as convenções sexuais. A falta de trama não torna o filme vazio; pelo contrário, a sucessão de surpresas cativa o espectador, e a trivialidade dos acontecimentos torna os desenlaces surreais ainda mais desconcertantes. Fazendo-nos, como em grande parte objetivava o movimento surrealista, enxergar a realidade com outros olhos.

Um filme especial que envelheceu um pouco, se tornando por momentos lento e irritante (e não é para todos os públicos) de um dos mais autorais diretores da história do cinema. O título, uma citação do início do Manifesto Comunista de Marx e Engels, pode tanto ser uma crítica ao comodismo burguês quando ao radicalismo esquerdista. Ambigüidade bem típica de Buñuel.

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