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Ficha completa do filme

Drama

Kundun (1997)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2002
Nota 1

Esta fita chegou aos nossos cinemas com um ano e meio de atraso. Rejeitado e devolvido pela sua distribuidora original (Europa), o filme prometia corrigir uma injustiça: Scorsese é o único grande cineasta de sua geração que ainda não ganhou o Oscar. Mas ainda não foi dessa vez.

"Kundun", realizado com nenhuma preocupação comercial, acabou sendo o maior fracasso de público e crítica de sua carreira. Por uma razão muito simples: admirado por seus violentos filmes de gângsters ("Os Bons Companheiros", "Caminhos Perigosos"), de boxe ("Touro Indomável"), geralmente estrelados por Robert De Niro, Scorsese realizou com elenco oriental e desconhecido, uma fita plácida e meditativa sobre uma cultura que desconhece e uma religião que não professa. Dá uma respeitosa visão de "outsider", faz uma biografia "autorizada" do Dalai Lama (que cooperou com as filmagens) sem paixão, sem garra, sem alma.

Produzido pela Disney, o filme fez com que o estúdio comprasse uma briga feia com o governo chinês que se opôs à realização de um tributo a um líder deposto por eles, o Dalai Lama do Tibet(região que continua sob o poder dos comunistas). Impedido de usar locações autênticas, Scorsese teve que rodar o filme no Marrocos. Corajosamente a Disney apoiou Scorsese (e por causa disso, quase perdeu um vantajoso acordo para construir uma Disney World na China). Mas "Kundun" é um tiro n'água. O misterioso título quer dizer "oceano da sabedoria" mas na verdade a fita trilha os mesmos caminhos já percorridos por Bertolucci ("O Pequeno Buda")e principalmente o francês Jean Jacques Annaud ("Sete Anos no Tibet"), que contava praticamente a mesma história só que pelo ponto de vista de um alemão.

Aqui se faz uma narrativa em ordem cronológica da vida do atual Lama. A história começa em 1933 com a morte do décimo terceiro Lama e a procura por seu sucessor. Utilizando a bonita fotografia de Roger Deakins, o filme usa inicialmente o ponto de vista da criança escolhida (que seria a reencarnação do antigo Lama) para ser o Buda da Compaixão. Mas acaba sendo apenas uma sucessão banal de fatos. Interpretado por quatro atores (em idades variadas), o Dalai Lama se mostra um líder fraco, confuso e inseguro, que não faz nada absolutamente para conter os ataques e invasões dos comunistas, que finalmente o tiram do poder. A parte mais heróica de suavida é a fuga para a fronteira na Índia.

É um roteiro muito fraco (escrito por Melissa Mathison, ex-mulher de Harrison Ford e co-autora de "ET") que Scorsese tenta salvar pelo esplendor visual (a música de Philip Glass faz o possível para criar um certo clima). Mas o resultado é artificial, como se o diretor fizesse um filme de férias de encomenda, preocupado mais com o exotismo e o efeito fácil. Foi muito barulho por muito pouco.

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