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Ficha completa do filme

Suspense

Água Negra (2005)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 24/01/2006
Nota 4

O fato de "Água Negra" ter sido uma decepção de bilheteria tem mais a ver com a burra expectativa do público que deseja reações imediatas (e desde quando se mede a qualidade de um filme por sua bilheteria?). Reza a lenda que o diretor Walter Salles aceitou o projeto com os irmãos Weinstein para conseguir distribuição e finalização de "Cidade de Deus", do qual era produtor.

Um ato muito generoso de sua parte porque acabou realizando --muito bem-- um filme de encomenda que depois esbarrou na famosa e clássica interferência dos produtores na montagem final. Há um plano no fim que me pareceu explicativo demais, quando duas pessoas caminham no corredor, e é tudo o que dá para revelar.

O fato é que Salles fez o melhor possível. Chamou dois brasileiros para a fotografia, Afonso Beatto e Daniel Rezende ("Cidade de Deus"), que têm um trabalho excepcional.

Aliás, tudo no filme conspira para o clima que o diretor pretende imprimir. O uso do colorido desmaiado, das cores pouco intensas, a chuva constante, a escolha da ilha Roosevelt do outro lado de Manhattan e até o uso do bondinho para chegar lá. Sem esquecer os prédios, todos iguais e decadentes. Tudo isso com um clima opressivo e inquietante, que vai num crescendo e jamais cai no banal.

Raramente se viu um filme americano recente e de orçamento médio tão bem construído. É preciso admirar o controle que ele tem na direção, na condução do elenco (excepcional, todos excelentes e muito bem escolhidos). Desde a primeira imagem, a gente sente que ele está nos envolvendo na história de Dhalia, uma mulher perturbada que está no processo de um complicado divórcio. O marido a considera incapaz de cuidar da filha do casal porque ela sofre de enxaquecas e tem traumas com o pai que a abandonou e a mãe alcoólatra que a rejeitou.

Isso é muito ajudado pela esplêndida interpretação de Jennifer Connely(Oscar por "Uma Mente Brilhante"). Ela apressadamente aluga um apartamento que tem infiltração do andar de cima. Está evidente que não é uma mera história de horror, mas o retrato de uma mente psicótica, que aos poucos vai se deteriorando, enlouquecendo --e, de certa maneira, passa para a filha essa herança.

Ou seja, tudo o que se mostra está sempre filtrado pela sensibilidade do diretor. Não se trata de uma mera história do fantasma de uma criança que vem assombrar Ceci (a talentosa Ariel Gade), a filha de Dahlia, mas um retrato psicológico muito rico, aberto a interpretações, de uma mulher à beira da loucura. O que obviamente não comportaria concessões, que ele não faz.

Ao contrário, em torno dela traz bons coadjuvantes que imprimem sua marca, como John C. Reilly, como o agente imobiliário vigarista, e o inglês Tim Roth, notável como um advogado bem intencionado. E até a sutileza de ter uma amiga confidente que não aparece, só conversa com ela por telefone.

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