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13/05/2008 - 15h02

Traços revolucionários contagiaram Festival de Cannes em 1968

MATEO SANCHO CARDIEL
Redação Central, 13 mai (EFE).- Traços revolucionários e de um cinema que tinha como ícones Jean-Luc Godard, François Truffaut e Claude Lelouch contagiaram o tradicional Festival de Cannes, o mais importante evento cinematográfico da Europa, em 13 de maio de 1968.

Nesse dia, Godard, Truffaut e Lelouch, entre outros, ecoaram a revolta que tomava conta de Paris.

Em 15 de maio, foi a vez dos também cineastas Roman Polanski e Louis Malle, além da atriz Monica Vitti, que integravam o júri em Cannes, aderirem aos protestos.

Diretores como Milos Forman, Alain Resnais e Carlos Saura chegaram a retirar seus filmes da disputa oficial.

A sala do Palácio dos Festivais, sede do evento, serviu de pano de fundo a acalorados discursos políticos.

Em 19 de maio, os organizadores finalmente anunciaram que a 21ª edição de Cannes estava suspensa. Foi a primeira e única vez que isso aconteceu até agora.

Maio de 1968 entrou para a história por várias particularidades. Entre elas está o fato de ter apresentado ao mundo a única revolução que teve o cinema como parte sumamente ativa no conflito.

Muitos dizem que a "sétima arte" serviu até como estopim para os protestos.

A revolta traduziu, de alguma forma, o auge da apologia às liberdades formais e temáticas que tinham servido de combustível à "nouvelle vague" e que, pouco a pouco, foram ganhando força política.

De fato, Godard e Chris Marker, entre outros cineastas, souberam captar também, e sem se dar conta, os segredos do fracasso, do rápido desvanecimento dos ideais da época e, claro, toda a trajetória de uma geração marcada pelo desencanto.

Godard antecipou símbolos do movimento em "A Chinesa" ("La Chinoise", de 1967), uma obra que misturava a exaltação e a autocrítica dos valores operários combatidos pela burguesia acomodada.

O próprio diretor de "O Desprezo" ("Le Mepris", de 1963) participou, junto com Marker, Resnais e Joris Ivens, do filme coletivo "Loin du Vietnam" ("Longe do Vietnã", em tradução livre), que revelou simpatias com o maoísmo e o leninismo.

O estopim da ação, por outro lado, foi Henri Langlois, fundador da Cinemateca Francesa, da qual toda a nova fornada de cineastas se dizia herdeira.

Langlois tinha sido afastado da Cinemateca pelo então ministro da Cultura francês, o literato André Malraux, em fevereiro.

Em massa, os amantes da sétima arte desencadearam protestos que, com Godard à frente, acabaram por produzir textos que acabaram sendo classificados como os "Estados Gerais do Cinema".

Em maio, os cineastas uniram forças com estudantes e operários e a situação culminou no célebre colapso, na tomada de Cannes e, meses depois, no desabe ideológico.

Enquanto Godard seguia envolvido no cinema político e criava o grupo "Dziga Vertov" - nome dado em homenagem a um diretor vanguardista soviético do início do século XX -, para defender um cinema revolucionário, Jean Eustache e Philippe Garrel assumiam o bastão de um sentimento que Romain Goupil resumiria em 1982 no título de seu documentário "Morrer aos Trinta Anos" ("Mourir à Trente Ans").

Efetivamente, o mês de maio de 1968 se tornou algo que poderia ser e não foi, em uma grande decepção que impregnou cada fotograma do intenso "A Mamãe e a Puta" ("La Maman et la putain", de 1973), de Eustache - que se suicidou em 1981 -, crônica de quatro horas sobre a exasperação.

Louis Malle voltou ao tema no final da década de 1990, com "Loucuras de Primavera" ("Milou en Mai"), embora tenha optado por um tom mais cômico e ácido, entre o inconformismo e a crítica à retórica do movimento.

Garrel ofereceu ainda uma grande aula de cinema na retratação, com a perspectiva que só o tempo é capaz de dar, da época que marcou o ponto de inflexão em seu cinema em sua obra prima "Amantes Constantes" ("Les Amants Réguliers", de 2005).

Nela, o protagonista era seu próprio filho, como uma espécie de testemunha para as novas gerações.

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