Depois da abertura com um filme de caráter mais comercial - "Ensaio sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles -, o Festival de Cannes começa a exibir fortes filmes de autor, que possuem mais o perfil da competição.
O argentino Pablo Trapero - de "Família Rodante" e "El Bonaerense" - estréia na disputa com "Leonera", no qual oferece ao brasileiro Rodrigo Santoro um papel de poucas cenas e muita carga dramática. Com planos bem cuidados, uma forte atuação da protagonista e um despojamento completo do melodrama, é um dos filmes mais bem resolvidos do jovem cineasta.
"Leonera" conta a história de Júlia (Martina Gusman, mulher do diretor), uma mulher presa pela morte do namorado que esta grávida e dá à luz o filho na prisão. O filme explora um traço particular da legislação penitenciária argentina: as presas podem cuidar de seus filhos na cadeia até que eles completem quatro anos de idade.
O título do filme faz referencia à mãe-leoa, que cuida obstinadamente de seu filho, e também a um espaço de transição onde ficam as presas ao sair das celas, como o trâmite por que passa a personagem ao longo de quatro anos.
Júlia não se lembra das circunstâncias do crime e culpa o amante do marido, Ramiro (Santoro), com quem também acabou se envolvendo. Apesar de Ramiro aparecer em poucas cenas, em visitas à protagonista na cadeia, pelos diálogos e conflitos entende-se a relação complicada e o amor que um sentia pelo outro dentro de um triângulo amoroso.
"Foi um grande desafio desenvolver esse personagem tão intenso, que mantinha uma relação com um homem e com uma mulher e fica balançado ao saber que aquele menino que vive na cadeia pode ser seu filho", disse Santoro na coletiva.