CANNES, França, 20 Mai 2008 (AFP) - O ex-jogador de futebol Diego Maradona afirmou que Pelé também tem "um lado obscuro", depois que o astro brasileiro considerou que o argentino deveria perder todos os seus títulos por ter se dopado, e defendeu novamente Ronaldinho nesta terça-feira, após a exibição do documentário "Maradona by Kusturica" no Festival de Cannes.
Depois da estréia do filme sobre a vida do ídolo do futebol argentino, dirigido pelo sérvio Emir Kusturica, em uma entrevista coletiva à imprensa Maradona foi instigado por jornalistas e não perdeu a chance de alfinetar Pelé, e disse que o brasileiro também fez coisas que quer manter em segredo.
"Ele também tem um lado obscuro. Conheço muitas histórias sobre ele e creio que teria ficado melhor calado", declarou o astro argentino. "Sua forma de falar de mim é indigna", acrescentou.
"Se eu não tivesse feito as coisas ruins que fiz em minha vida, Pelé não chegava nem em segundo. Não digo isso por soberba, mas porque ele ia repousar às dez da noite e eu ficava sem dormir. Quando Pelé fala, fala negociando, e acho que o carinho das pessoas não se negocia. Ele tinha que estar mais próximo dos jogadores".
Maradona mencionou outro grande nome do futebol brasileiro de uma forma bem mais amistosa ao se referir aos problemas de Ronaldinho no Barcelona. "É o mesmo que aconteceu comigo. Nada mudou", disse.
"Ronaldinho é uma pessoa boa demais, um jogador bom demais, para ser criticado assim. Ronaldinho deu tudo ao Barcelona. Sem ele o Barcelona não vence nada. Por favor, peço que os barcelonistas de verdade mantenham Ronaldinho, porque se ele for para outra equipe, quando chegar a Barcelona vai dar o troco, vai fazer três gols neles", considerou.
"Mantenha-no, não façam o mesmo que fizeram comigo, com Rivaldo, com Ronaldo, com Romário, com Figo e com vários jogadores que saíram brigados do Barcelona. Quem perde sempre é o torcedor", insistiu.
Antes da coletiva de imprensa, Maradona trocou passes de cabeça com o diretor sérvio do documentário, Emir Kusturica, diante dos fotógrafos. Ambos insistiram no vínculos de amizade que os unem, e Kusturica afirmou que os povos dos Balcãs e da América Latina têm em comum "o desejo de liberdade e a alegria de viver".
Em relação ao grande espaço dado à política no documentário, o ídolo do futebol argentino afirmou que "a política é algo que surgiu de Emir".
"Parece que quando se é famoso já não pode opinar" a respeito de certos assuntos, como sobre o presidente George W. Bush e os Estados Unidos.
"Emir me deu esse respeito que todo ser humano necessita. Não é por ser jogador de futebol que não se pode considerar que alguém é um assassino". "O que quero dizer com o filme de Emir é que eu também posso falar, que também posso ser a voz do povo", afirmou.
"Esse filme foi feito com o coração e, através da liberdade que temos para dizer as coisas, queremos dizer o que muita gente no mundo não pode dizer", acrescentou Maradona.
O ex-craque argentino afirmou que não foi difícil falar no filme sobre uma fase conturbada de sua vida, na qual quase chegou ao fundo do poço por seu envolvimento com as drogas. "Vivi momentos muito duros, muito ruins, mas o bom é que estou aqui e posso falar sobre isso" e "posso viver agora de outra maneira", disse.