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21/05/2008 - 20h43

"Adoraria fazer o quinto Alien", diz a argentina Lucrecia Martel em Cannes


THIAGO STIVALETTI

Colaboração para o UOL, de Cannes
Apenas jornalistas da América Latina e Espanha fizeram perguntas hoje à cineasta argentina Lucrecia Martel na coletiva de imprensa de seu novo filme, "A Mulher Sem Cabeça", mais um impressionante estudo sobre a alma humana, desta vez uma mulher que crê ter atropelado uma criança e passa um período ausente de si mesma, desligada da realidade. Martel é diretora e "O Pântano" e "A Menina Santa", ambos lançados no Brasil e disponíveis em DVD.

Trailer de "La Mujer Sin Cabeza"

O filme gerou muita discussão (sobretudo estética), mas todos ficaram muito curiosos com o anúncio hoje do novo filme da diretora, a ficção científica "El Eternauta - O Navegador da Eternidade", baseada nos quadrinhos de Hector German Oesterfeld, muito célebre na Argentina. O Eternaura é um herói que combate uma invasão alienígena em Buenos Aires, invasão essa que provoca uma enorme tempestade de neve na cidade.

"Desde que fiz 'O Pântano', avisei a Miramax que adoraria fazer o quinto Alien. Seria uma maneira de deslanchar minha carreira internacional, mas até agora não consegui", brincou em tom muito sério. "Me interesso por tudo o que é orgânico, a exploração dos limites entre o vegetal e o mineral. Quando dirijo um filme, sinto-me como um monstro cujos tentáculos são os cabos e os microfones, esmiuçando como um microscópio o corpo dos personagens".

Martel comentou as declarações de que "A Mulher Sem Cabeça" seria de certa forma um filme sobre a ditadura argentina - uma história na qual, quando não aparece uma vítima, não há crime. "Cresci na ditadura, e lembro de como as pessoas se esquivavam da verdade, evitavam-na de qualquer forma. A insensibilidade das pessoas se constrói à força de muita educação. Esquecer é o mesmo que deixar de ver a realidade à sua volta", filosofou.

Refinamento da imagem

Muitos críticos e jornalistas - principalmente os de fora da América Latina - torceram o nariz para a "A Mulher Sem Cabeça". Diretora de grandes e bem trabalhados planos, Martel consegue neste terceiro filme um refinamento ainda maior que nos anteriores para contar a história de uma mulher que passa um período de auto-ausência, uma espécie desprendimento da alma, depois de atropelar algo ou alguém. Terá sido uma criança? Ou simplesmente um cachorro?

Veronica (Maria Oneto) não volta para verificar, nós também não vemos, mas o resultado é a descrição do estado fantasmagórico de uma mulher, descrito em soberbos planos desfocados. É como se Antonioni e as célebres personagens interpretadas por Monica Vitti tivessem chegado ao cinema argentino.

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