CANNES, 22 Maio (AFP) - O filme "Che", do americano Steven Soderbergh, saga de 4h30 dedicada ao líder revolucionário Ernesto "Che" Guevara, foi recebido na noite de quarta-feira com respeito no Festival de Cannes, onde compete pela Palma de Ouro.
A produção de Soderbergh, filmada em espanhol, e não em inglês, é apresentada em duas partes. A primeira percorre minuciosamente o processo que começa em 1956 com a viagem de Fidel Castro e 80 rebeldes a Cuba e culmina com a entrada dos "barbudos" em Santa Clara em 1959, e com o triunfo da Revolução que derrubou o ditador Fulgencio Batista.
Soderbergh permeia essa parte da história, sempre de maneira pedagógica, com seqüências em preto e branco para simular imagens de arquivo, que na realidade foram reconstituídas para o filme.
Uma entrevista de Che a uma jornalista americana é usada como fio condutor desse relato, que passa por diversos momentos importantes do processo revolucionário e do protagonista, especialmente a intervenção do ministro Guevara diante da Assembléia Geral das Nações Unidas em 1964.
Este mosaico da guerra de guerrilha acompanhada quase no dia-a-dia se estrutura como uma sucessão de situações pontuais, cofnfuso em alguns momentos devido aos inúmeros personagens, sem que os autores expressem um ponto de vista que contribua para uma perspectiva conjuntural.
A segunda parte de "Che" começa com Fidel Castro lendo a carta de despedida do argentino antes de abandonar Cuba em 1965 com a intenção de estender a revolução pelo mundo, primeiro no Congo e depois na Bolívia.
O tom é muito diferente, passa a ser a crônica de uma inércia, ao estilo dos "westerns" clássicos de perdedores solitários, secos, em meio a grandes paisagens.
Do movimento revolucionário de Cuba não ficam rastros nas montanhas da Bolívia. Muito doente, com asma, Che Guevara não é nem sombra do que um dia foi. Pouco a pouco vão caindo seus fiéis seguidores até que a caça ao homem termina com sua prisão seguida de execução sumária em 1967, na selva boliviana.
Benicio del Toro encarna um Che com grande presença junto com um elenco internacional de qualidade que contribui para a credibilidade da história, interpretando muitos personagens às vezes difíceis de identificar.
O mexicano Damián Bichir interpreta Fidel Castro, enquanto o brasileiro Rodrigo Santoro vive seu irmão, Raúl Castro. Também estão no filme os espanhóis Elvira Mínguez, Unax Ugalde, Oscar Jaenada, Carlos Bardem, Eduardo Fernández e Jordi Mollá, os cubanos Vladimir Cruz e Jorge Perugorría, a colombiana Catalina Sandino, o argentino Gastón Pauls, o portugês Joaquim de Almeida, entre outros.
Sob o comando de Soderbergh, "Che" passou a ser dois filmes, com um orçamento de 60 milhões de dólares. A parte que retrata Cuba foi filmada no México e em Porto Rico, enquanto que a maior parte do capítulo boliviano foi rodada na Espanha e na Bolívia.