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23/05/2008 - 11h48

Kaufman estréia em Cannes com "Synecdoche, New York"

CANNES, França, 23 Mai 2008 (AFP) - O aclamado roteirista Charlie Kaufman entrou na disputa do Festival de Cannes com sua primeira obra como diretor, "Synecdoche, New York", nesta sexta-feira, que apresentou ainda a primeira exibição de "Il Divo", de Paolo Sorrentino, um retrato ácido do ex-presidente do Conselho italiano Giulio Andreotti.

'Synecdoche' é a estréia como diretor de Charlie kaufman, considerado um dos roteiristas mais talentosos do cinema americano atual.

Kaufman é autor, entre outros, do roteiro de "Quero ser John Malkovich" de Spike Jonze, "Confissões de uma Mente Perigosa" de George Clooney e "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças" de Michel Gondry. O roteiro de 'Synecdoche', obviamente, também é dele.

O filme tem como personagem central Caden Cotard, diretor teatral insatisfeito com sua criação artística e que tem seu relacionamento com uma artista plástica em crise.

Hipocondríaco e obsessivo com o medo da morte, abandonado pela mulher, que leva a filha, Caden decide, após receber uma grande quantia de estímulo à arte, realizar uma enorme obra teatral, uma obra total que seja a representação da sua vida.

Mais que uma história contada e linear, o filme de Kaufman é uma construção labiríntica através da qual o diretor aborda temas de sua preferência, já usados em roteiros anteriores: limites entre realidade e imaginação, criação, a percepção do outro, mas também o envelhecimento e o medo da morte.

A montagem excessivamente intelectual da trama tem pontos de humor e momentos ácidos, e é clara a distância com a que Kaufman se furta do egocentrismo de seu personagem que, como a sinédoque do título, confunde a parte com o todo.

O filme tem um elenco sólido, liderado por Philip Seymour Hoffman, contando ainda com Samantha Morton, Emily Watson, Michelle Williams e Jennifer Jason Leigh.

Outro filme de destaque desta sexta-feira é o italiano "Il Divo", de Paolo Sorrentino, sobre a vida do ex-presidente do Conselho italiano Giulio Andreotti.

Aos 89 anos, Andreotti é uma das figuras mais emblemáticas da democracia-cristã italiana, estando há meio século no centro do poder: sete vezes presidente do Conselho, cinco como ministro das mais variadas pastas, além de ter uma cadeira vitalícia como senador.

Nos anos 90, foi acusado de ter relações com os mafiosos da Cosa Nostra e de ter encomendado o assassinato de um jornalista, apesar de ter sido absolvido de todas as acusações.

Desde os primeiros momentos de "Il Divo", o diretor arremete contra Andreotti, com uma concentração de imagens, músicas e frases sarcásticas, que aparecem também escritas na tela, como que para melhor gravar a situação na mente do espectador.

Com uma montagem bastante nervosa, o cineasta napolitano faz uma passagem das 'amizades perigosas' de Andreotti, "O Inoxidável", além de oferecer pinceladas de sua vida familiar.

O ator Toni Servillo, que também atua em "Gomorra", o outro filme italiano que compete em Cannes, compõe um personagem impávido, contraído, incapaz de esboçar um sorriso apesar de ter um grande senso de humor.

Fora de competição, Abel Ferrara apresentou "Chelsea on the rocks", um curioso documentário sobre o Chelsea Hotel de Nova York, que já abrigou inúmeros artistas do cinema, música e arte, figuras antes 'underground' e agora consagradas.

Cannes terá ainda, pela tarde, a exibição do terceiro filme na competição, "My Magic", do diretor de Cingapura Eric Khoo, que já apresentou em Cannes "12 Storeys" (1997) e "Be with me" (2005).

No sábado, o Festival entrará na reta final com "Entre les murs" do francês Larent Cantet e "Palermo Shooting" do alemão Wim Wenders, os dois últimos filmes no concurso pela Palma de Ouro antes do veredicto do júri, que anunciará os vencedores no domingo.

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